O canal “Porta dos Fundos”
utiliza um humor que é guiado pelo sarcasmo. Recentemente publicou um vídeo
intitulado “Especial de Natal – Porta dos Fundos” que beirou ao insulto e
ironia.
O vídeo coloca em dúvida a
virgindade de Maria, expõe o suposto “chifre” que Maria colocou em José e
debocha do nascimento divino de Jesus ao dizer “o povo acredita em qualquer
coisa”. A frase, apesar de ser verdadeira em alguns assuntos, se tornou uma
ofensa contra o pilar do cristianismo que é a figura de Jesus (seja ela
histórica ou mística).
Além disso, o vídeo fala a
relação entre Maria Madalena e Jesus, este que é mencionado em evangelhos
apócrifos e esteve em debate na mídia constantemente. Em uma outra cena um dos
discípulos oferece suborno para conseguir lugares no restaurante. Diante da cena,
Jesus finge que não viu. Para finalizar, na hora da crucificação, percebemos um
Jesus medroso e reativo.
Depois de assistir, me lembrei do evento onde a
revista francesa “Charlie Hebdo” publicou as charges do profeta Maomé. A reação foi
extrema! Ao ponto de termos algumas embaixadas fechadas. Em 2005, caricaturas
dinamarquesas do profeta geraram uma onda de revolta onde 50 pessoas foram
mortas.
No Brasil, a reação está apenas no
discurso. No entanto, apesar de termos liberdade de expressão, ela precisa de
um bom senso. Não uma censura gerada por parte de quem se sentiu ofendido, mas
por parte de quem fez o comentário ou vídeo. Ao satirizar um assunto,
precisamos medir os efeitos colaterais.
Pelos comentários, vejo pessoas
felizes com o vídeo e aproveitando para ofender evangélicos e católicos.
Também, vejo religiosos já encarando o assunto como guerra santa e se
posicionando como advogados de Deus.
Porta dos Fundos segue ganhando
com os diversos cliques no vídeo. Enquanto isso, um ringue foi montado de
bestialidades. De um lado, um ódio que aproveita o sarcasmo do vídeo para debochar.
Do outro, religiosos ofendidos que se mobilizam em protestos.
Nosso país é bem aventurado ao
ter liberdade religiosa. Onde você pode acreditar em que quiser. É feliz também
em ter liberdade de expressão que permite um cidadão criticar o que bem
entender, até mesmo uma divindade. No entanto, o que vemos hoje é o povo não
sabendo usar essas riquezas constitucionais. Somos crianças que brincam na lama
com diamantes e ouro.
Link do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=2VEI_tn090c
Pedro Henrique Curvelo
Dezembro de 2013