sábado, 22 de junho de 2019

SÉRGIO MOURO DEVERIA ASSISTIR A SÉRIE BILLIONS!


Nos últimos dias o Brasil assistiu uma pequena rachadura na armadura do Ministro da Justiça Sérgio Moro. Ao ter seu bate papo com o procurador Dallagnol em um aplicativo de mensagem vazado no site The Intercept.

As mensagens revelaram  uma certa parcialidade e influência na sua época de juiz quanto a Lava Jato. Diante dessa notícia, não me assusto com o conteúdo. E sim, com a aparente inocência de Moro ao expor assuntos sigilosos por meio de um aplicativo de mensagem. Mesmo que esse aplicativo seja o Telegram. Onde até um tempo atrás se vangloriava da sua segurança digital frente ao Whatsapp.
Moro era o juiz da maior operação contra a corrupção que o Brasil já teve. Era de se esperar um mínimo de cautela.

O engraçado é que na semana que foi noticiado, eu estava assistindo a mais um capítulo da série Billions na Netflix. Série que mostra o duelo entre o promotor Chuck Rhoades (Paul Giamatti) e o magnata do mercado de ações Bobby Axelroad (Damian Lewis). Em um determinado momento um juiz precisava falar com o promotor. Ele não ligou e não mandou nenhuma mensagem por aplicativo. Apenas fez no modo antigo. Mandou um bilhete de papel via um intermediário e se encontraram em um lugar discreto.

O que isso mostra?
Que é comum juizes e procuradores trocarem mensagens. Seria inocência da nossa parte pensar o contrário. Mesmo que tenhamos conflito em separar o que é ilegal do que é imoral, a vida é um jogo. Cada um movimenta as peças conforme seus interesses. A ética na nossa ótica impede que venhamos a enxergar a estratégia do jogo. Não que devessemos abrir mão da ética, mas entender o sistema evita com que venhamos a nos iludir com as figuras dos heróis.

No entanto, mesmo sendo prática, revelar as cartas do jogo por meio de um aplicativo de mensagem é erro de garoto!

Depois das revelações de Edward Snowden, sobre a vigilância global por parte da NSA, ficou claro que nenhum aplicativo, e-mail, celular e computador é invunerável.

Será que Moro não percebeu que com o exército de inimigos que estava fazendo, cautela com celular era imperativo?

 O legado de Moro com a Lava Jato, onde prendeu Lula, Temer e processou Dilma e Collor, além inúmeros políticos e empresários, poderá ficar fragilizado, porém, dificilmente será destruído.

Mesmo que de graça Sérgio Moro tenha concedido munição para os seus adversários. Tanto da oposição quanto dos políticos e empresários que foram presos.

Moro resolveu jogar. Usou peças ocultas para justificar a vitória da justiça frente a corrupção. Como consequência da fragilidade na sua imagem, sua intenção a uma cadeira no STF ficará distante.

Mas, o jogo ainda não acabou. Há cartas a serem reveladas do outro lado. Pode ser uma bomba relógio ou alarme falso. Nesse intervalo, Sérgio Moro terá que  aproveitar a opinião pública a seu favor para abafar o caso. Vale também aproveitar esses momento para assistir a série Billions e pegar algumas dicas.

Pedro Henrique Curvelo
Junho de 2019
Imagem: https://www.riskscreen.com/kyc360/news/brazil-lawmakers-vote-to-strip-financial-oversight-from-justice-minister/

domingo, 5 de maio de 2019

A DIFÍCIL ARTE DE SER BOLSONARO




No campo político para conquistar o poder e mantê-lo é necessário construir um nome até o ponto em que ele deixa o individual e assume o coletivo. Deixa de ser referência a uma pessoa comum e se torna em um mito. O nome passa a ter identidade própria. Mais tangível que a própria pessoa que o carrega.

Assim aconteceu com o imperador romano Augusto Cesar, onde o “Cesar” passou a ser um título cujo o significado era atrelado ao seu tio avó Julio Cesar.

Hitler passou de um cidadão político para uma espécie de Entidade do Terceiro Reich. No Brasil o mesmo se fez com Dom Pedro II, Vargas e nos dias atuais Lula. Lula não é mais um codinome de Luis Inácio da Silva. É agora um poder que pode definir o rumo do país em uma eleição. Mesmo estando preso.

Por sua vez, Jair Bolsonaro também viveu essa transfiguração ao evoluir o Bolsonaro do seu nome para uma entidade que serve de bandeira para o conservadorismo da direita. Evoluiu em uma proporção muito superior ao que o próprio Jair poderia alcançar. Tão elevado se fez que garantiu uma eleição apenas pelas mídias sociais. Conseguiu atingir a massa política ao gerar seguidores extremistas: Os bolsominions. Palavra depreciativa para fazer referência aos seguidores fanáticos do Bolsonaro.

Nesse ponto, existe o grande conflito do nosso presidente. A incapacidade do Jair em ser o Bolsonaro. Ele não consegue sustentar isso por muito tempo. O Jair do Twitter é diferente do Jair construído por Olavo de Carvalho.

Temos pouco tempo de governo e a cada semana o imprevisto do que o Jair poderá falar ou digitar. O imprevisto gera angústia naqueles que estão conduzindo um tema de suma importância: A reforma da previdência. Tema este que está acima do governo do PSL. Se o Hadadd tivesse ganhado as eleições, também teria que priorizar esse tema. No entanto, tal tema construtivo é impactado pelas criancices do PSL.  

Bolsonaro ao invés de ficar perguntando no twitter o que é “Golden Shower”, deveria assumir seu papel constitucional como presidente. Ao invés de ficar defendendo o filho na briga com Mourão, deveria mostrar para o Brasil que seus filhos não são príncipes de uma corte republicana.

Mas, não é fácil o Bolsonaro assumir seu papel constitucional e, tão pouco, gerir seu partido PSL.
O PSL é muito mais complexo que o PT. O PT, por exemplo, possui a ala radical com os Sem Terras. Tem a ala intelectual da turma do Hadadd e a ala tradicional da formação original. Nessa pluralidade do PT, Lula conduziu e conduz com maestria.

O PSL, no entanto, vai muito além. Vejam a complecidade: Bolsonaro precisa gerir dentro do próprio partido a ala conservadora, a ala militar, a ala liberal (centralizada no Paulo Guedes), a ala intelectual (centralizada na figura de Olavo de Carvalho) e uma turma de deputados que não possue nenhuma experiência política. Enquanto digito esse texto fico, sinceramente, na dúvida do que é mais difícil: O Brasil ou o PSL.

Jair vive pressionado. Uma coisa é ser um parlamentar com anos e mais anos no congresso. É fácil! É só colocar lenha na fogueira. É fazer um discurso radical no microfone. Agora, a pegada é outra. Ser Presidente não é para qualquer um.

Diante dessa carência do Jair e da loucura do PSL, temos a falta de um articulador político. Um guardião da presidência, que negocia temas importantes com o congresso, que coloca o Jair no trilho e que preserva a imagem do que é ser Bolsonaro.

Esse poder de articulação não existe. Por isso o intenso conflito com o Rodrigo Maia. Querem, a todo custo, transferir para Maia esse papel. Mas, o próprio já criticou. Apesar da sua grande capacidade com o Congresso, ele é o presidente da câmara e não o chefe da casa civil. Esta, que é conduzida pelo Onyx Lorenzoni. Que, convenhamos, não serve para nada.

Diante dessa bagunça toda vale a pergunta: Até quando Bolsonaro ficará no poder?

Difícil dizer. Mas, com toda certeza, nada acontecerá até a aprovação da Reforma da Previdência. Poderes maiores blindam o tema das intempéries políticas. Depois da aprovação, aposto que o Governo Bolsonaro irá cair e Jair poderá ser Jair apenas.

Maio de 2019
Pedro Curvelo


Imagem: https://jornaldecaruaru.com.br/2019/04/nao-nasci-para-ser-presidente-nasci-para-ser-militar-diz-bolsonaro/

domingo, 21 de abril de 2019

BATIZADOS NA RUA



Nossos ancestrais nasceram nos berços da escravidão 
Tantos anos, mais ainda influencia a trilha da nosso dia do momento presente

Crescemos na Mangueira
E andamos pela Zona Sul

Seguimos a mesma estrada
Só dormimos em camas diferentes

O samba une o passado ao presente
Em uma mistura de nostalgia com calmante

O dançar é a licença mística para deixar a loucura fluir
No tempo da música enquanto por dentro choramos nossas dores
As lágrimas que nossos antepassados não tiveram tempo de chorar

O tempo os batiza
A percepção os desperta para uma verdade: somos todos iguais

Portanto, sambe!
Sambe sobre a terra onde todos um dia voltarão. 

Onde o silêncio nos abraçará 
Como uma mãe nos acalmando de um choro 


Naquele dia onde a Verdade que liberta prevalecerá sobre a malandragem e a exploração.


Pedro Curvelo 
Abril 2019

domingo, 10 de março de 2019

A INCOERÊNCIA HISTÓRICA DA MANGUEIRA COM RELAÇÃO A PRINCESA ISABEL



Passada a ressaca do carnaval, temos que criticar de forma racional a campeã de 2019.

A escola de samba Mangueira construiu um enredo cheio de incoerência. Política e histórica. Política por mostrar uma clara distância entre a prática e o discurso. Na prática o seu passado manchado pelo envolvimento com o jogo do bicho e milícia, no discurso uma homenagem a falecida vereadora Marielle Franco. Para mim, essa homenagem foi uma ofensa a memória da vereadora e da brilhante história que ela teve.

Agora vamos para a incoerência histórica. Parte do samba diz:

“Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati”

Exaltam Dandara e depreciam a Princesa Isabel.
Dandara que foi esposa de Zumbi dos Palmares. Negro que tinha escravos.

Princesa Isabel foi uma verdadeira militante da causa abolicionista. Seria ignorância pegar como respaldo apenas o fato de ela ter assinado a lei áurea. Vai muito além da assinatura.

Ela não tinha escravos. Os negros que trabalhavam para ela recebiam salário.

Ela organizava eventos sociais em Petrópolis para levantar fundos para comprar alforria de escravos.

Era amiga do engenheiro André Rebouças (negro).

Princesa Isabel foi quem promoveu Machado de Assis (neto de escravos) no serviço público.

O título de “Redentora” foi dado pelo abolicionista José do Patrocínio (negro).

Após a abolição, foi formada a Guarda Negra por Patrocínio. Uma instituição formada por ex-escravos que tinha por objetivo defender a Princesa Isabel como um gesto de agradecimento pela libertação deles.

Vejam o que o historiador Paulo Cruz (negro) fala da Princesa:




Sendo assim, a Mangueira tentou construir um discurso de esquerda sem respeitar a esquerda (memória de Marielle). Além disso, fraudou a História. Deveria aprender um pouco sobre a família real brasileira com a Unidos de Vila Isabel.

“Viva a princesa e o tambor que não se cala

É o canto do povo mais fiel
Ecoa meu samba no alto da serra
Na passarela, os herdeiros de Isabel
Vila, te empresto o meu nome
Fonte de tanta nobreza...” Samba-Enredo da Unidos de Vila Isabel


Pedro Curvelo
Março de 2019

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

FLAMENGO ATÉ MORRER! Uma reflexão sobre o Ninho do Urubu



“Flamengo até morrer”

Assim profetizou o autor Lamartine Babo (músico e compositor, autor do hino popular do flamengo).
Meus dedos escrevem esse texto em luto. A minha agressividade no teclado é substituída pelo silêncio. O reverenciar da escuridão. Do vento que se foi.

No dia 08 de fevereiro de 2019 no Ninho do Urubu, centro de treinamento do flamengo, fomos informados do incêndio. Mais um entre outros que sempre acontece. Mas, espera! Havia jovens lá dentro. Destes, 10 morreram.

Jovens cuja a geografia não amarrou os pés e nem o coração para o despertar do talento. Pelo menos a tentativa. A fé dos familiares e o fluir concreto dos sonhos.  

Eu paro em contemplação em meio a um fato: muitas crianças aprendem a chutar uma bola primeiro do que andar. Vejo, por exemplo, a euforia do meu filho de 10 meses (idade em que esse texto foi escrito) diante da bola. Objeto de paixão. Que para muitos é um lazer, como no meu caso, e para outros a erupção do desejo.

Sonho curto para uma garotada de 14 a 16 anos. Mas, vivido intensamente. Na mais sinceridade do amor.

Diante da sacralidade do romantismo desses moleques existe o senso de juízo. A critica e protesto pela negligência. Sim! A prefeitura não havia concedido licença para a estrutura. Apenas liberou o lugar como estacionamento. Não havia autorização dos bombeiros.

Meus leitores! Vale o que está escrito!

Pela burrice, negligência, ganância, ou seja, lá o que for, o fato é que 10 jovens foram cortados do nosso dia a dia. O jogo terminou antes do juiz abitar. É triste! É a dor de algo que foi interrompido. No caso, não de sonhos de carreiras futebolísticas, mas de vidas.
Poderia ter sido seu filho e o meu. Mas, não foi. O fato aconteceu com:
·         Athila Paixão, de 14 anos
·         Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 14 anos
·         Bernardo Pisetta, 14 anos
·         Christian Esmério, 15 anos
·         Gedson Santos, 14 anos
·         Jorge Eduardo Santos, 15 anos
·         Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos
·         Rykelmo de Souza Vianna, 16 anos
·         Samuel Thomas Rosa, 15 anos
·         Vitor Isaías, 15 anos

Seja Mariana, seja Brumadinho, suja o Ninho do Urubu. Tudo poderia ter sido evito (pensamento otimista) ou minimizado (pensamento realista), se não fosse a ganância e a negligência.

Pedro Curvelo
Fevereiro de 2019