sábado, 30 de março de 2024

NOSSA IDENTIDADE COMO NAÇÃO

 



Somos filhos da cultura grego-romana. 

Beatificada pela sobrevivência romana com incrementos cristãos da revolução social de um grupo de seguidores de um judeu chamado Jesus.

Em nosso DNA está o despertar do Iluminismo. Onde homens se tornam deuses. Onde nossos amores se convertem em valquírias. Onde nosso cristianismo se torna purificado de qualquer interferência palestina, árabe e africana. Onde a intervenção do Sagrado ou de forças extraterrestres respaldou a exclusividade da verdade e o direito ao domínio.

Amamos nossa terra. Mas, pisamos sem dó nos filhos da mãe brasilis. Com o perdão da semântica, foda-se se o filho é um ianomâmis, carajás, caiapós, tupis, caingangues, guaranis, uaimiris ou xavantes. Não importa. Afinal, o suicídio de uma mãe indígena para não ser escravizada pelos portugueses ou estuprada pelos Bandeirantes só é ouvido pela mata da natureza brasilera. Um emergente na Barra da Tijuca não consegue ouvir. Muito menos um playboy de Balneário Camboriú.

Quanto aos nossos negros, antigas propriedades, antigos motores da nossa economia, estupramos a mãe africana e fingimos que uma assinatura apaga o débito da força trabalhadora. Por ironia, sempre se escreveu que o princípio bíblico é que a Providência sempre disse que “digno é o trabalhador do seu salário”. Não diferente, o sangue da nossa terra clama por justiça. Quem ouvirá? Eu? Você? Um poder temporário de quatro anos? O Divino? Uma marchinha de carnaval? Mas sendo Divino em qual teologia que o respalde?

Enquanto vivemos nossa agitação mental de valores e cultura, seguimos. Quem sabe um dia poderemos casar com a princesa filha da mãe África. E honrar seus ancestrais. Que pelos seios maternos, filhos dos barões do café foram alimentados. Honrar as mãos que trabalharam e que durante a noite, como castigo, ficavam presas na mesma altura que seus tornozelos em um chão de terra.

Eles não conseguiam ouvir, mesmo tendo suas senzalas embaixo das salas de jantares. Entre suas porcelanas tinham o canto e o toque do piano na Grande Casa. E hoje não escutamos também. Nosso burrice é tão tamanha como nação que nos assustamos com o holocausto durante o nazismo, mas esquecemos da nossa própria terra. Seja no passado ou atual dois séculos como os centros psiquiátricos. Sim! Nossa Barbacena em Minas foi um pedaço da nossa Auschwistz.

Alguns por surdez intelectual. Outros por puro egoísmo. Outros por culpar o álcool ao ouvir alguma voz ou energia de protesto quando visitam alguma fazendo do antigo Vale do Paraíba (fazendas históricas no Rio durante o período imperial). Culpam o alambique ou se refugiam em algum psicotrópico para calar a voz da verdade.

Mas, seguimos. Quem sabe um dia o filho da mãe brasilis honrará o ventre da princesa africana. Dará alívio aos nossos doentes mentais (viva a memória de Nise da Silveira!). Quem sabe julgará a causa das vozes que clamam por justiça diante das ruínas que estrangeiros visitam no nosso Brasil.

 

Pense nisso!

 

Pedro Curvelo

Março 2023

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O que penso sobre o discurso do Lula sobre Israel



 O tema Holocausto sempre chamou a minha atenção bem antes de iniciar a faculdade de história. Quando iniciei, já sabia o que queria pesquisar como monografia. No final escrevi sobre a participação da Igreja Luterana na perseguição aos Judeus durante o Nazismo. Foquei nesse tema porque muito se escrevia sobre a Igreja Católica. Mas, quase nada sobre a igreja estatal da Alemanha: A Protestante Luterana.

Já no primeiro período eu mergulhei nessas pesquisas. Documentos da época. Manuscritos do próprio Martinho Lutero que "justificava" a perseguição aos judeus e, o mais bizarro, a leitura do livro do próprio Hitler: Minha Luta.  Sempre me surpreendi com as teses raciais, políticas e teológicas construídas para perseguir os filhos de Abraão. No outro extremo as fake news sobre os judeus. Bem antes da internet, colocavam jornais nas paredes com imagens para criar um sensacionalismo entre a população. Na Alemanha Nazista, por exemplo, circulava uma propaganda acusando velhos judeus de pedofilia. A imagem era um judeu ortodoxo dando um pirulito para uma criança ariana. Exemplo das propagandas:


Infelizmente hoje com a Guerra entre Israel e Hamas na Palestina, as pessoas se prendem a argumentos teológicos, filosóficos, preconceitos, vídeos de tiktok como "fonte oficial" sobre determinados assuntos. Assim, vivemos um sensacionalismo usado no discurso político. O que é esperado, afinal política é um jogo de narrativas.

Sobre a postura do Lula ao protestar contra a guerra durante sua viagem na Etiópia, traz para mim alguns pontos de reflexão:

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico..." Lula

Faz sentido. Na lista dos conflitos nessa região (que é do tamanho da cidade de São Paulo) com os romanos, Império Turco, persas, assírios, tribos israelitas (antes de surgir o Estado de Israel); não se compara a guerra atual, principalmente relacionado às crianças. A estatística era assertiva na época desses povos? A resposta é não.

"...Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus". Lula

Aqui está a "linha vermelha", mencionada pelo Benjamin Netanyahu (Primeiro-Ministro de Israel).

Primeiro que o número foi maior. Segundo porque estamos falando da crueldade nazista. Exemplos:

1 - Corpos de mulheres que tinham suas peles arrancadas e depois "coladas" novamente. Espera um tempo, repete o processo com a mesma pessoa viva. Eu disse viva;

2 - Crianças que passavam por cirurgias de inclusão de membros e viravam "monstros" com duas cabeças;

3 - Cobaia de Mengele: Adolescentes na faixa dos 14 anos recebiam injeções para ficar com febre, depois enfiavam agulhas grandes nas costas para coletar sangue;

4 - Câmaras de Gás (o mais conhecido nos livros de História);

5 - Fornos.


O nazismo queria exterminar uma raça pelo simples fato de serem judeus. Israel entrou em guerra com o Hamas para defender seu território. Se o problema é crônico ou não, questões que não foram bem resolvidas ou assentamentos ilegais, aí é outro tipo de debate, mas não justifica associação com o holocausto.

Claro que aqui temos pontos também de ponderação:

Primeiro: O serviço de inteligência de Israel é um dos maiores do mundo. Não conseguiram prever o ataque do Hamas? 

Segundo: Que civis morrem em guerras é previsível. É guerra! Que crianças iriam morrer porque o Hamas tem depósitos de armas em reservatórios embaixo de hospitais, também é previsível. Mas, o serviço de inteligência e a avançada forças armadas de Israel não conseguiriam mitigar os impactos? Plano de evacuação mais viável até em terras israelitas não era possível?

Aqui a crítica é política. E não contra os judeus. 

É coerente Lula criticar Israel pelos excessos das mortes. Estamos falando de crianças.

É coerente Lula reivindicar a soberania da Palestina como um país. Como a ONU fez com Israel. 

É INcoerente Lula não colocar a mesma energia de protesto contra o Hamas ou contra o Maduro na Venezuela. Aqui do nosso lado.

É INcoerente Lula comparar com o Holocausto.

Por falar em incoerências, o Brasil não deu abrigo adequado aos judeus perseguidos. Lembram de Olga Benário? Pelo contrário, abrigou após a segunda guerra um comandante nazista em São Paulo na fábrica da Volkswagen.

Por fim, penso que existem coerências e incoerências no discurso do Lula. No dualismo da incoerência acusar a prática de Israel com o Holocausto não faz sentido da mesma forma que não faz ao acusar Lula de ser antissemita. Pondere. Seja livre para opinar. Mas não se deixe facilmente enganar por narrativas de internet.

Pense nisso!

Pedro Henrique Curvelo

Fevereiro de 2024