sábado, 13 de maio de 2023

QUANDO O DE REPENTE ASSUSTA



O de repente assusta.

Uma morte na família que ocorre sem esperar. O desemprego que chega sem aviso prévio. O término de um relacionamento. A descoberta de uma doença quando tudo parecia normal.

O de repente tem várias linguagens, mas o trauma é mesmo.

Fere nosso planejamento.

Quebra nossa expectativa.

Nos faz enxergar a ruptura da armadura, onde o sangue jorra.

Nos faz enxergar a finitude. A caveira que habita em nós.

A dor vem.

O desespero nos apossa.

É o momento onde tentamos inserir nossos remédios nas correntes das veias. Na esperança de nos livrar da realidade da dor.

Onde drogas, excessos, mantras e jargões religiosos não conseguem tirar.

Onde não conseguimos um escape para as miragens.

Aquele lugar em que a escuridão é o processo para a calma. De início é a insegurança e o medo. Mas com a respiração o cavaleiro medieval deixa a armadura cair. 

O suspiro desfaz as tensões na nossa musculatura.

O sagrado feminino tranquiliza por um momento.

Até o dia do último suspiro. Onde as asas do Aba irão cobrir nossa finitude. E entenderemos que dele sempre fomos filhos.

Onde em um campo verde você observará as nuvens passando.

As árvores balançando.

Sobre sua passagem sua semente observando.

E o legado da sabedoria sendo digerida.

Onde a fusão gera o Uno.

Onde um novo ciclo se apresenta.

E a constatação que somos nascidos da lua, mas renascidos pelo sol.

Pedro Curvelo

Maio de 2023

Imagem: Leon Biss