Associar a violência e o medo com
a religião não é novidade na nossa história. Todas as religiões, quando abraçam
a ideia de superioridade e exclusividade, caem na ignorância de envolver a fé
com a violência, sempre pegando a própria crença para respalda um ataque contra
aquele que foi feito a imagem e semelhança do Divino, o ser humano.
A mídia noticiou essa semana denúncias
envolvendo traficantes de algumas comunidades do Rio, que estão proibindo
praticantes de religiões de matriz africana a realizarem seus cultos. Pessoas
ligadas ao tráfico estão invadindo terreiros e ameaçando as pessoas que usam
roupas de cor branca. A proibição da roupa aconteceu no Complexo do Lins. Esses
traficantes, de acordo com as denúncias, frequentam igrejas evangélicas. Uma
moradora, por exemplo, esqueceu a “roupa do santo” no varal e como
consequência, foi expulsa da favela.
De acordo com o Jornal Extra
desse domingo, uma mãe de santo tentou fundar o seu terreiro no Parque
Colúmbia, na Pavuna. No entanto, foi alertada sobre a proibição de despachos e
atabaques. Na Serrinha, o traficante
Fernandinho Guarabu (frequentador da Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai)
proibiu terreiros, tanto na Serrinha como no Morro do Dendê. Além disso, muros
da favela que tinham imagens de santos, foram pintados com a frase: “Só Jesus
salva”.
Não é só nas comunidades do Rio que
acontece essa situação. Certa vez, em um congresso religioso em Betim, Minas
Gerais, conheci um índio de uma tribo no Pará. Ele era filho do Cacique. Com a
conversão do seu pai, todos os membros da tribo receberam a ordem para se
converterem ao cristianismo.
Infelizmente, o entendimento
errado da fé e o seu extremismo, prejudicam uma sociedade civilizada. Não são
os neopentecostais os responsáveis por essa perseguição. Toda religião está
sujeita a cair nessa cegueira. Foi assim com o judaísmo, o islamismo, o
cristianismo católico nas guerras santas, com os protestantes, com religiosos
em tribos africanas, com o hinduísmo e por aí vai.
Precisamos entender que a nossa
luta não é contra carne ou sangue,
que o Jesus Cristo tatuado no antebraço direito do Fernandinho Guarabu nunca
usou a força para combater quem era contrário a ele. Pelo contrário, Jesus uma
vez falou: “Quem usa a espada, pela
espada morrerá”.
Desejo, que o Ministério Público
e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (Ccir), tenham êxito em suas
investigações.
Pedro Henrique Curvelo
Setembro de 2013
Foto: Urbano Erbiste / Extra
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