domingo, 8 de setembro de 2013

TRAFICANTES “EVANGÉLICOS”



   Associar a violência e o medo com a religião não é novidade na nossa história. Todas as religiões, quando abraçam a ideia de superioridade e exclusividade, caem na ignorância de envolver a fé com a violência, sempre pegando a própria crença para respalda um ataque contra aquele que foi feito a imagem e semelhança do Divino, o ser humano.

   A mídia noticiou essa semana denúncias envolvendo traficantes de algumas comunidades do Rio, que estão proibindo praticantes de religiões de matriz africana a realizarem seus cultos. Pessoas ligadas ao tráfico estão invadindo terreiros e ameaçando as pessoas que usam roupas de cor branca. A proibição da roupa aconteceu no Complexo do Lins. Esses traficantes, de acordo com as denúncias, frequentam igrejas evangélicas. Uma moradora, por exemplo, esqueceu a “roupa do santo” no varal e como consequência, foi expulsa da favela.

   De acordo com o Jornal Extra desse domingo, uma mãe de santo tentou fundar o seu terreiro no Parque Colúmbia, na Pavuna. No entanto, foi alertada sobre a proibição de despachos e atabaques. Na Serrinha, o traficante Fernandinho Guarabu (frequentador da Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai) proibiu terreiros, tanto na Serrinha como no Morro do Dendê. Além disso, muros da favela que tinham imagens de santos, foram pintados com a frase: “Só Jesus salva”.

   Não é só nas comunidades do Rio que acontece essa situação. Certa vez, em um congresso religioso em Betim, Minas Gerais, conheci um índio de uma tribo no Pará. Ele era filho do Cacique. Com a conversão do seu pai, todos os membros da tribo receberam a ordem para se converterem ao cristianismo.

   Infelizmente, o entendimento errado da fé e o seu extremismo, prejudicam uma sociedade civilizada. Não são os neopentecostais os responsáveis por essa perseguição. Toda religião está sujeita a cair nessa cegueira. Foi assim com o judaísmo, o islamismo, o cristianismo católico nas guerras santas, com os protestantes, com religiosos em tribos africanas, com o hinduísmo e por aí vai.

   Precisamos entender que a nossa luta não é contra carne ou sangue, que o Jesus Cristo tatuado no antebraço direito do Fernandinho Guarabu nunca usou a força para combater quem era contrário a ele. Pelo contrário, Jesus uma vez falou: “Quem usa a espada, pela espada morrerá”.

   Desejo, que o Ministério Público e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (Ccir), tenham êxito em suas investigações.

Pedro Henrique Curvelo

Setembro de 2013

Foto: Urbano Erbiste / Extra

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