Certo viajante uma vez contou a
seguinte história:
Nos tempos mitológicos, onde a
fantasia trazia cores para o preto e branco da realidade do homem, havia um
único espelho. Neste, deuses, anjos e homens se juntavam para contemplar a
Imagem.
Imagem! Representação de uma
ideia que interpretamos e aceitamos como real. Um fantasma que não assusta. Um
portal que mostra o mesmo mundo e face que conhecemos, mas sob um outro ângulo.
Um espelho onde todos olhavam. A
imagem refletida do todo gerava a contemplação do um. Um gerado pelo todo.
Todos os homens se tornando um homem. Todos os deuses se fundindo no espelho e
gerando um único deus.
Ver todos os homens no espelho e considera-los
um se tornou normal. A normalidade virou rotina. Vez ou outra, todos se uniam e
olhavam para o único espelho e viam apenas uma imagem.
O que era rotina foi surpreendido
pelo acaso. O “de repente”. De repente o espelho perdeu estabilidade e quebrou.
Com a queda, fragmentos se espalharam pela terra e pelo céu. Assustados com o
imprevisto, todos correram para pegar um pedaço e garantir uma parte da Imagem.
A cooperação deu lugar para o egoísmo. A inteligência para fundir os pedaços de
vidro, deu lugar para a ignorância.
Separados, o todo do um, só era
possível para cada homem e deus ver em parte a Imagem. Pela limitação dos
pedaços um homem só enxergava a si mesmo. Não tinha espaço para olhar o
semelhante. Um deus só contemplava sua personalidade e nome. O pedaço que cada
um tinha só tornava possível a contemplação do um.
No início foi estranho. Depois o
estranho cauterizou a consciência. Foi comum então olhar para um pedaço do
espelho e considera-lo o espelho. Foi comum um homem olhar para um espelho e
pensar que apenas ele era o todo. Pois, era o que sua ótica mostrava.
Assim seguimos. Matamos em nome
de Jeová, Alá, Maomé e Jesus. A mão de todos os homens está suja em nome do seu
deus ou em nome do poder econômico e político travestido de discurso religioso.
Não percebemos que matamos a nós
mesmos. Destruímos a Imagem do que é Deus e do que é homem. Os poucos
fragmentos do vidro que poderiam ser unidos estão ficando extintos.
Um dia o meu vidro voltará para a
areia. O seu também. Então, perceberemos que éramos um no nascimento, como um
seremos na morte.
Como viajante, sigo o meu
caminho. Comungando com outros viajantes. Todos no mesmo Caminho.
Pedro Henrique Curvelo
Janeiro de 2015
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