terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

IEMANJÁ E IVETE SANGALO



   Desde o dia 02 de fevereiro a página do Facebook oficial da Ivete vem gerando vários comentários devido a sua declaração para Iemanjá, o orixá das águas para a umbanda e para o candomblé. O post polêmico foi um simples: “Salve Iemanjá!!!”.

   Dia 2 de fevereiro é considerado o dia de Iemanjá. Diversos cristãos bombardearam a página da rede social da cantora baiana com trechos da bíblia que condena a idolatria, como o texto de Êxodo 20: “Não terás outros deuses diante de mim... Não farás para ti imagem esculpida... Não te prostrarás diante desses deuses”.

   Utilizar um livro de fé para respaldar um argumento é prejudicial quando se tornar uma arma para atacar quem acredita de forma diferente. A Bíblia só é respaldo para quem acredita nela, quem não acredita, não serve como parâmetro. Como o Apóstolo Paulo disse: “A fé esclarecida que tens, guarda-a para ti diante de Deus” (Romanos 14:22). Logo, se você não acredita em imagens, guarde para você e a exponha quando alguém perguntar a sua opinião ou em um local de debate apropriado.

   A condenação da prática da adoração a imagens ou deuses é absoluta para a pessoa que acredita. Quem não acredita, se torna relativa. Pois, a bíblia é um livro de fé e não um manual de verdade absoluta (no que diz respeito a diversidade do pensamento humano). Para um cristão, o texto de Êxodos, Deuteronômio e tanto outros que trazem a definição do que seria idolatria é absoluto apenas para ele. Para um devoto de Iemanjá, não.

   O mesmo texto é relativo até para um judeu e um cristão. Boa parte dos cristãos acredita que Jesus é o Deus encarnado. Para um judeu isso é idolatria! Quem tem razão? Difícil dizer, pois cada um interpreta conforme a sua constituição.

   Voltando para o Facebook da Ivete, outros partiram para um exorcismo virtual: “tá repreendido... Só Jesus na causa”.

   Precisamos entender que um perfil social pertence ao seu correspondente. Ivete, no seu perfil, escreve aquilo que é referente a ela. Ou seja, sobre música, sobre a sua família e sobre a sua fé. Neste, como é devota, manifestou sua homenagem postando a mensagem “Salve Iemanjá”.

   Ela não perguntou: “Alguém acredita em Iemanjá?”. Se fosse, abriria margem para debate e opiniões diversas, mas não foi isso o que ocorreu.

  Vou trazer o cenário para a minha vida. Eu sou um cristão. Sendo assim, posso publicar no Facebook a frase “Jesus Cristo é o Senhor”. É a minha fé e a página é minha. Me sentiria ofendido se alguém criticasse essa minha crença.

   Vivemos em um país laico, onde a liberdade de crença é incentivada. Se podemos ver diversas postagens de versículos bíblicos e convites para cultos, quem é de uma fé diferente, também tem o direito de manifestar a sua devoção.

Salve a liberdade de crença!

Pedro Curvelo

Fevereiro de 2014

Um comentário:

Regime da fome disse...

Seu texto meu fez pensar sobre nossas crenças populares, de uma cultura tão rica e distinta mas que aos poucos se torna escassa e folclórica. Uma simples tradição anual como forma de agradecimento á um ''Ser Natural'' possa ser um tabu.
Diante disso não podemos negar á ignorância da comoção o retardo das redes sociais,e seus seguidores.