sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sapatos de Luciana





A noite de sexta-feira é o momento onde o sentido horário regressa, a alma mostra outras faces e o luar se torna indecifrável.

Luciana sabia disso, seus sapatos também.

Com óculos de armação grossa preta, não sabia a noite quem era ela. 

Meiga com rosto de criança, discreta e misteriosa. Sua bolsa parecia uma caixa de pandora que carregava os mistérios da sua alma.

Seus sapatos a conheciam mais do que qualquer pessoa.


Em plena noite de sexta-feira a estrada a esperava, as veredas antigas a despertavam para o momento onde o presente e suas intuições se fundiam.

Pés de menina, sapatos de mulher. Nunca houve compasso em seus passos, mas qual a necessidade disso? Nem sempre trilhos retos e planejados levam a um final feliz.

A verdade é que hoje ela irá andar. Simplesmente andar. Já avisou em casa que chegará mais tarde. Será a noite em que ela vai permitir ser mulher.


Em si, ela tem um pouco de receio. Mas os seus sapatos já estão preparados.

Pela primeira vez ela usa um decote, seu colar para censurar, mas ao mesmo tempo hipnotizar. Sua cintura, ao andar, é um pêndulo que direciona qualquer libido.

A noite passa e poucos homens a perceberam. Esta é uma deficiência do sexo masculino, não ficar atento às ricas fábulas que rodeiam a alma feminina com a lua.


Eu também não reparei. Não reparei nos sapatos da Luciana.

Só foi possível percebê-los quando fiquei descalço. 

Pedro Henrique Curvelo
Julho de 2012

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