sexta-feira, 6 de julho de 2012

OS PÉS DE UMA MULHER





Os pés dela estavam descalços quando o viajante a conheceu. Sujos com as feridas de uma estrada tortuosa, cujas veredas antigas eram de lágrimas.

Quando ele a viu, se comoveu. Pensou que amigável seria sarar aquelas feridas e cobrir os pés com uma sandália.

Mas, depois de refletir, percebeu que os pés descalços eram resultados do seu espírito livre que regia a sua alma.


É lógico que deveriam ter feridas! Afinal, machucados não são também insumos que estruturam a maturidade de um ser?


Ela é livre! É mulher!


Ela, respeitando um processo "darwnístico", onde as chagas dos seus pés evoluíram e a metamorfose a enobreceu. 


No andar nessa mesma estrada, o espírito livre a coroou como princesa. 


Qualquer plebeu se apaixonaria com o adorno do seu jeito.


Ela livre! Ela mulher!


O ondular dos seus cabelos, a leveza do olhar, o gosto do andar, a exaltação do cuidar e compartilhar.


Ela livre! Ela mulher! 


A paixão do viajante gerou no coração um vinho que até Baco cobiçaria. Vinho de alegria, desejo, cuidado e amor.


No entanto, no caminho da confissão, a decepção.


Ela mulher, não olhou. Esse foi o fim.


Na vida sentimental a audição é pelo olhar. 


Por fim, o vinho foi despejado sobre os pés dela e não degustado.


Julho de 2012


Pedro Henrique Curvelo

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