sábado, 3 de dezembro de 2022

A CALÇADA E A ESCADA

 


Felizes são as crianças que mesmo nascendo com um legado de dor, desenvolvem a fantasia e a magia como proteção.

Maldito são os adultos quando, diante da incapacidade de prover e proteger, até a imaginação usurpam.

Felizes são os seres humanos que com seu estado sensitivo conseguem conectar o passado com o presente. Onde o passado sorrir e o presente compreende. São mais evolutivos que aqueles cuja o lado sensitivo alcançam outras almas pelo mesmo plano.

Não nos esqueçamos que o mar nos purifica e o sol nos energiza. É a luz que traz a ressurreição. É o mar que traz a provisão.

Não nos esqueçamos que por mais que andemos em uma mesma calçada, ela não é eterna. Ela apenas mostra a Escada no horizonte. Apenas uma passagem para um momento novo e evolutivo.

Eis o segredo: Quando a magia feminina abre margem para a voracidade, entre rugidos e magia, o tempo vida é gerado.

A calçada nos levou para casa. 

A pequenez que leva a porta de Muitas Moradas.

A realidade que autentica a maturidade da vida.

Por fim. Será que de fato sempre existiu só Uma? Ou a compreensão da tríade? Do nascimento, viver e morrer. Sabemos que a letra por si só mata. Mas o Espírito vivifica quando escutamos o Silêncio das Letras.

Até porque apenas o silêncio é capaz de acender o último incenso.

Pedro Curvelo

Dezembro de 2022

sábado, 29 de outubro de 2022

Nosso apartheid Político e Social



 Filho brigando com pais por causa da divergência política.

Amigos deixando de se falar e saindo dos grupos de Whatsapp porque o outro ficou bolsonarista demais.

Motorista de Uber brigando com passageiro porque perguntou em quem iria votar e escutou: Bolsonaro.

Evangélicos sendo constrangidos em algumas igrejas porque declararam voto em Lula.

Nossa sociedade está doente. E o povo esquece que a polarização é construída e explorada. É estratégico alimentar uma polarização para se manter no poder ou conquistar ele. 

O povo romantiza o que não tem que ser romantizado. Beatificamos o que não tem como ser santificado. Nesse caso o jogo político. Como dizia Maquiavel que o fim não é a Moral, e sim, a manutenção do poder.

Lula e Bolsonaro não são inimigos. São adversários. Tem um texto que escrevi em 2018, "Leia isso antes de votar". Onde Aécio Neves atacou a Dilma em uma CPI. E no intervalo foi cumprimentá-la com um abraço e trocaram sorrisos e uma conversa particular no ouvido. Eles separam as coisas. Se amanhã tiverem que se unir em interesse comum, irão fazer. Imagina se isso acontecer. Como ficará o povo que briga com unhas e dentes por eles? 

Sua escolha de um político tem que ser por critérios práticos. Como conduzirá a economia, como criará interlocução com o Congresso e como irá compor os Ministérios. Não estamos escolhendo um Papa. E sim o executivo de uma nação.

Não se engane pensando que essa polarização acabará no dia 30. Teremos um "3º turno" onde se manterá o "nós contra eles". Onde culparemos o outro por todas as desgraças da vida. 

Desejo que você entenda que sua família e amigos são mais importantes que políticos. Que seu emprego vale mais que se estressar argumentando a favor ou contra um candidato. Não preciso te lembrar que os políticos estão ricos e você fazendo conta para fechar o mês no azul.

Pondere, reflita e não potencialize o jogo político. Vote com consciência. Zele pela sua alma, pelo seu emprego e pela sua família.

Boa votação a todos!

Pedro Curvelo

Outubro de 2022

Imagem: Carta Capital

quinta-feira, 14 de julho de 2022

QUEM IRÁ PROTEGER A MULHER?


 

Ela foi estuprada.

"Mas cara! Olha a roupa que ela estava usando. Estava pedindo".

Ela foi promovida no trabalho.

"Com certeza deu para algum grandão"

O tio abusou da sobrinha menor de idade, filmou e jogou o vídeo na internet.

"Eu vi. Pequena e já gostosinha"

Ela é prostituta. Com o dinheiro que ganhou teve que dar a metade para o cafetão e ainda apanhou dele. Ela queria que o trabalho dela fosse regulamentado para não ter que passar por isso.

"Não devemos regulamentar. Ninguém mandou ser puta"

Fulana! Por que você não termina o namoro com ele? Já que está sofrendo.

"Ele me ameaçou dizendo que se terminar joga a filmagens da nossas relações sexuais na internet e compartilha com meus familiares e colegas".

Você viu o que aquele anestesista fez?

"Eu vi. O cara não perdoa ninguém. Ele colocava a mulherada para mamar dopada. Muito esperto. Queria que alguém compartilhasse o vídeo comigo"

...

As frases acima revelam diversos cenários, mas sempre uma única vítima: A mulher.

Seja menor de idade, seja consciente ou inconsciente, seja mãe, filha, esposa ou amiga. 

Algumas situações só sabemos porque hoje em dia temos a facilidade das redes sociais e de um celular que filma. Mas, pensa um pouco quando não tínhamos isso.

É imperativo um basta nos ataques que as mulheres sofrem. É urgente que a sociedade respeite e zele pelo sagrado feminino. Isto é, que o feminino seja curado e empoderado.

Nossas leis e nossas posturas precisam fornecer estrutura e suporte para que a mulher seja livre

Livre para ir e vir. Livre para usar a roupa que ela quiser, livre para entrar em um relacionamento e sair. Livre para trabalhar e ter uma profissão. Livre para crescer, se for criança, com toda a proteção necessária, livre para entrar em uma sala de parto e só viver a expectativa do filho que virá.

Que nossa legislação e justiça possam ser a cada dia mais eficiente na proteção a mulher.

Quanto a sociedade, que possamos nos espelhar nos funcionários do Hospital da Mulher Heloneida Studart que gravaram o anestesista Giovanni Quintella. A responsabilidade é de todos. Denuncie! Ajude! 

Por fim, que essa monstuosidade sirva de lição para que possamos evoluir.

Atenção: Se você sabe de alguma coisa contra uma mulher, não se cale. Ligue para o 180.

Pedro Curvelo

Julho de 2022

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Câmara de Gás da Polícia Rodoviária Federal

 


Hoje tive uma pertubação ao passar pelas redes sociais e me deparar com uma notícia a respeito da morte de um homem, Genivaldo de Jesus dos Santos, por asfixia devido a uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe que saiu do controle não apenas dos protocolos da polícia, mas da sanidade e de todo conceito de moralidade. O incidente saiu tanto do controle que transforam a viatura da política em uma verdadeira câmara de gás.

A demonização das mentes cauterizadas dos policiais impediram de ouvir os gritos de desespero de Genivaldo.

Segundo a família, Genivaldo fazia uso de medicamentos controlados para a esquizofrenia. Com esse diagnóstico já mostra que esse homem já sofria de torturas mentais. Fruto dos seus fantasmas, mistura de delírios, alucinações e desorganização dos pensamentos. No entanto, por infelicidade da vida, viveu uma tortura na prática por aqueles que deveriam zelar pela sociedade.

Quando falamos em câmara de gás, pensamos na época da segunda guerra onde o governo nazista alemão usava essa estratégia para matar milhões de judeus. Pensávamos que essa prática diabólica tinha ficado no passado e que a humanidade evoluiu. No entanto, essa tragédia em Sergipe mostra que ainda está na alma humana. Essa doença em normalizar uma tortura ao ponto de ouvir os gritos de desespero e nada fazer. Esses policiais não apenas sujam o nome da instituição da Polícia Rodoviária Federal, mas também de cada brasileiro.

As autoridades brasileiras tem a obrigação de apurar e julgar com eficiência essa monstruosidade. Não podemos normalizar essa prática. Não podemos fazer a leitura desse tipo de matéria em um jornal e seguirmos nosso dia a dia sem nenhum incomodo na consciência.

Que a alma de Genivaldo possa descansar. Que a morte dele sirva como despertar para que possamos corrigir essas anomalias da nossa sociedade.

"Ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes". Artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Pedro Henrique Curvelo

Maio de 2022

domingo, 6 de março de 2022

Mamãe, falei merda! Uma análise política sobre o áudio de Arthur do Val contra as mulheres ucranianas



O Deputado Arthur do Val (youtuber do canal MamãeFalei) foi do céu ao inferno em um curto espaço de tempo. Enquanto voltava da sua viagem (sem sentido) da Ucrânia, o poder de escala das redes sociais foi intenso ao vazar o áudio sexista contra as mulheres da Ucrânia  que o Deputado mandou em um grupo particular. Esse incidente fez o Arthur não só perder a namorada, mas também perder a chance de sucesso em uma disputa ao governo de São Paulo. E aqui eu quero com você analisar as lições no campo político. Não é nosso objetivo olhar a parte moral e ética. Por que não precisamos mais colocar nenhuma opinião. Acredito que todos concluem que foi repulsivo o que ele falou.

  

Vida de político não é festa. É um constante jogo de estratégia.


A política é um jogo de poderes. A todo instante se busca uma brecha do adversário. Principalmente em ano eleitoral.

 

O político é político 24h por dia. Não tem descanso. Esse é o preço. Logo, a justificativa de que “o áudio era em um grupo particular” o prejudica mais. Por que mostra uma pessoa diferente do que ele apresenta. Arthur do Val forneceu de graça munição para os adversários.

 

A impressão fala mais que a verdade.


Essa é uma verdade que incomoda o puritanismo da nossa sociedade. Mas é verdade, infelizmente. A massa da população não vai apurar uma determinada informação. Ela vai seguir a impressão. A agitação.

 

Então quando ele falou “olhem o contexto”, para tentar amenizar, isso não ajudou em nada.


Se um escândalo veio à luz, não alimente.


Por qual motivo a mídia potencializa as desgraças e escândalos? Por que o povo gosta disso ou porque tem alguém financiando. Simples assim.

 

Se algo vem a luz. Emita uma Nota Oficial e permita que o assunto fique quieto. Deixe nas mãos dos advogados e assessores para que atuem nos bastidores para resolver o assunto.

 

Percebam a família real britânica. Quando surge um escândalo, emitem uma nota oficial (maior parte dos casos) e não tocam mais no assunto. Essa postura é um dos motivos pelos quais permanecem tanto tempo no poder.

 

O que o partido do Arthur do Val, Podemos, deve fazer?


Literalmente afastar o deputado da legenda. Para não prejudicar o projeto maior de terceira via que estão propondo: Moro. Sem dizer que a presidente do Partido é uma mulher. Tem momentos, no jogo político, que devemos sacrificar uma peça para salvar o rei (analogia com o xadrez).

 

Arthur do Val. O que deve fazer?


Ir para os bastidores um tempo. Abrir mão da pré-candidatura. O que já fez. Aproveitar a janela partidária de março e trocar de partido, se não for expulso antes. E tentar a reeleição como deputado estadual por São Paulo.

 

Como jogador político Arthur do Val garoteou. Falou demais em um canal errado: WhatsApp. Acha mesmo que um dos integrantes de um grupo não poderia pegar o áudio e vender para um adversário político?

 

Por ironia, Moro, do mesmo partido, também foi “inocente” com essa ferramenta. Quando a conversa dele com Dallagnol vazou. Já escrevi sobre isso aqui no blog


Quero encerrar repetindo que esse texto não é sob a ótica da moral e ética. Todo mundo sabe, até os apoiadores do deputado, que o que foi falado é injustificável. Aqui é só analisar como é o movimento político em situações como essa. É importante que você como eleitor entenda como funciona o sistema. Não para se corromper. Mas para sobreviver a ele.

 

Pedro Henrique Curvelo

Março de 2022

  

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Um pouco de Humanização

 


A lei só existe porque não conseguimos ser guiados pelo bom senso gerado pela consciência.

O princípio “não faça aos outros aquilo que você não quer que faça com você” deveria ser reavivado em nossas memórias todos os dias.

O incidente com o congolês Moïse revela a depreciação da nossa natureza onde em um conflito usamos a força para resolver. Ou pior, a covardia porque precisamos de um grupo para punir, machucar alguém. Meio que para termos uma ereção de coragem e entorpecimento da consciência.

Temos leis, não precisamos da força. Mais do que isso, temos consciência. Só isso deveria ser o fator de ponderação.

Mas a força não é má. Ela é necessária em determinadas situações e regidas por regras. Ela é legítima em defesa própria, de um indefeso ou da sua propriedade.

A morte do congolês revela os excessos e atrocidades que acontecem nos bastidores. Nem sempre há uma câmera filmando. A filmagem traz a luz a reflexão e a apuração dos fatos. E óbvio, tanto a apuração como a reflexão não podem ser conduzidas pelo sensacionalismo político. A mudança tem que ser totalmente estrutural da nossa constituição como seres humanos.


Que nossa terra possa ter as sementes da justiça, equidade social. Para que nossa consciência seja lavada pelo senso de respeito ao próximo e que isso reflita nos nossos processos legais.

Para que assim, o clamor do sangue dos inocentes possa se acalmar.

Pedro Curvelo
Fevereiro 2022