Margarida é o nome de uma tartaruga que eu conheci.
A encontrei pela primeira vez bem pequena. Cabia tranquilamente no centro da minha mão direita.
Depois de um certo tempo a vi grande onde era necessário segurar com as duas mãos.
Ao perceber o processo do tempo para ela, fiz um paralelo com a minha vida.
Na agitação do meu dia a dia como: trabalho, compromissos, relacionamento, amizades, protocolos, questões para resolver, noite mal dormida, noite bem dormida, beber água, passeios, comer de formar saudável, engolir um fast food, praticar uma corrida, reavivar o passado, "planejar" o futuro, esquecer do presente, ficar em um sofá tendo uma overdose de chocolate, processos espirituais que limpam a mente e o corpo, gulas da vida onde agirmos como se o mundo fosse acabar amanhã, fechar os ouvidos para alguns assuntos, ler tudo o que é notícia e processar várias informações e assim por diante. Vi que ela estava em outra vibe de vida.
Mantinha religiosamente sua rotina!
Assim que amanhecia, tomava seu banho de sol. Depois, fazia sua caminhada. Para mim tão lenta que o piscar dos meus olhos era mais rápido que ela. Mas, ela não se importava com essa minha observação. Mantinha o seu ritmo. Um passo de cada vez. E nessa propriedade de cada passo se deslocava de um lado para o outro.
Eu, por outro lado, viciado no cronômetro que o mundo impunha, rodava e rodava e me mortificava. Margarida seguia seu instinto para ir adiante.
Quando queria, simplesmente parava e dormia.
Meu corpo, na ciranda do mundo, me definhava. Me alimentava de lixo pensando que era comida.
Falei comida?
Margarida depois da sua caminhada, comia legumes, verduras e frutas.
Se alimentava no seu ritmo também. Mastigava, mastigava e mastigava. Abria bem a boca e pegava um pedaço de melancia e ia mastigando, mastigando e engolindo.
Ela sabia que tudo o que precisava, a mãe natureza já havia provido.
Ela entendia que para se alimentar, era necessário ficar parada e simplesmente aproveitar o banquete.
Eu, influenciado pelo mundo ocidental, pulava esse rito. Engolia aquilo que era gostoso, mas não tinha verdade como alimento. Pulava até o rito do ajuntamento. O fazer uma pausa no dia e dividir o pão dando graças ao Eterno.
Fim do dia.
Margarida irá dormir. Praticar o rito do renovo. Do rejuvenescer.
Sabemos que a vida é o start para a morte. O problema é o como conduzimos. Podemos nos enterrar aos poucos ou celebrar o dia chamado Hoje.
Margarida entende de longevidade. Os anos passam, ela continua forte se alimentando do sol, caminhando, comendo tranquilamente, tirando sua soneca, quando cai uma chuva, aproveita até
para lavar o seu casco.
A minha espécie até dorme, mas não desliga a mente. Deixar um carro ligado, pode prejudicar a bateria. Todos sabem disso.
A cada encontro com a Margarida, percebo que não sou mais esperto que ela. Pelo contrário, ela se tornou minha mentora.
Professora sobre o que é viver a propriedade de cada passo. Nisso reside o segredo da longevidade.
Pense nisso!
Pedro Curvelo
Janeiro de 2017
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