domingo, 7 de julho de 2013

SEMPRE HAVERÁ UM CACHORRO



Ela dorme pelas esquinas do meu bairro. 

O seu nome até hoje não descobri. Não entendo como ela se alimenta e bebe água, nunca vi ninguém a fornecer, como também nunca vi ela pedindo.
Tentei uma vez, mas ela recusou.
De repente, ela é alimentada pelos corvos, da mesma forma como aconteceu com o profeta Elias.

Ela apareceu e por aqui ficou.
Boa parte das pessoas fingem que ela não existe, desviam o olhar quando ela encara e atravessam para o outro lado da rua. Nosso egoísmo sempre tem a tendência de colocar o outro à margem.
Temos olhos, mas não enxergamos. Naquele grande dia eles falarão contra nós.

Por sorte dela, apareceu um cachorro. Estranho compará-los aos anjos, mas as pedras clamam quando não há ninguém.
Os cães lamberam as feridas de Lázaro, foram os seus companheiros em períodos de tormento.

A vida segue para ela. Eu a observo, ela fala algo que ninguém entende, mas é o seu interior revelando um fragmento da sua história, essência e identidade.

Para o mundo "normal" ela é louca. Se ela é louca, nós somos andróides. E nessa nossa humanoide, apenas figuramos.

Ela passa, em parte, o processo que Nabucodonozor passou. Se desumanizou, perdeu sua dignidade. E como animal viveu.

A consciência ainda visita as profundezas. Deus queira, que de lá ela consiga trazer ela mesma. Pois, sozinha se encontra. Eu a observo e o cão a acompanha. 

Somente o amanhã dirá o que caminho que ela seguiu.

Pedro Henrique Curvelo
Julho de 2013

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