quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A operação no Rio contra o Comando Vermelho foi um Sucesso ou Desastre?



28 de outubro de 2025. O Rio de Janeiro presenciou mais um capítulo da guerra contra o crime organizado. Às vezes é contra o Terceiro Comando Puro do Peixão, outras contra as milícias — e ontem foi contra o Comando Vermelho. Mais uma vez.

Para o governador Cláudio Castro, foi um sucesso com 121 mortos. Ou, como ele disse: “117 narcoterroristas”. Fora os quatro policiais mortos durante o serviço.

Mas, sem atrapalhar a festa do nosso governador-cantor, vamos pensar.

Quantos territórios do Comando Vermelho o Estado recuperou?
Nenhum. Entrou, atirou, alguns bandidos morreram — mas o domínio permanece com o Comando Vermelho.

O fornecimento de drogas vindo dessas regiões diminuiu?
Não. Se um playboy da Zona Sul quiser comprar entorpecente para uma festa particular, o fornecimento será garantido.

Quantas rotas de armamento foram identificadas e destruídas?
Nenhuma.

A população da Zona Norte ganhará a paz de poder andar sem presenciar ônibus sendo sequestrados para fechar ruas?
Não — continuará do mesmo jeito.

O pequeno comerciante, que já suporta carga tributária abusiva e a “taxa de segurança” do poder paralelo, deixará de receber ordens de criminosos para fechar o comércio?
Não deixará.

Sendo assim: a operação foi um fracasso.
Falo isso como cidadão que mora na Zona Norte do Rio.

Agora, se o objetivo é produzir conteúdo com cadáveres para impulsionar uma campanha eleitoral ao Senado em 2026, então — parabéns — está no caminho certo.

Bandidos foram mortos! Isso é bom?
Vamos pensar: Matar bandido reduz a quantidade de roubos? A resposta é simples: não. As estatísticas mostram que roubos e assaltos crescem ano a ano. Ou seja: você continuará andando com o “celular do bandido”.

Cuidado com os encantamentos dos políticos — sejam de direita ou de esquerda. Como mostrei em um vídeo que publiquei, a maioria nunca apresentou um único projeto de lei sobre segurança pública. Por isso que o bandido que é preso hoje, na verdade já tem três ou quatro passagens pela polícia.

Numa guerra, o conceito de sucesso e vitória é quando você finca a bandeira. Do contrário, é oba-oba político.

Não eliminaram o domínio do Complexo do Alemão nem do Morro São João — continuarão com o Comando Vermelho.
Nova Iguaçu continuará sendo território de milícia.
Brás de Pina continuará sob o Terceiro Comando Puro. E assim por diante.

E você?
Continuará trabalhando, correndo o risco de ser assaltado, pagando a taxa do poder paralelo e os impostos do Estado.

Pense nisso. 

Outubro de 2025

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Brasil Paralelo vs Brasil Real: PEC da Blindagem, Isenção de IR e Trabalho Infantil



O Brasil Paralelo dentro do Congresso

Enquanto o Congresso Nacional discute seus próprios interesses, o Brasil Real segue esquecido. Deputados e senadores vivem em um universo paralelo, distante da dor cotidiana da população. No Brasil Paralelo, a prioridade é manter privilégios e articular bastidores políticos.


PEC da Blindagem: privilégios acima da lei

A chamada PEC da Blindagem é um exemplo claro desse abismo.
Apresentada como defesa da democracia, na prática, representa apenas a proteção dos próprios parlamentares contra investigações e punições.
Enquanto isso, o povo sofre sem respostas para os problemas mais urgentes.


O Imposto de Renda até 5 mil e o esquecimento do povo

No Brasil Real, milhões de trabalhadores esperam a promessa de isenção do Imposto de Renda até 5 mil reais.
Essa pauta, que poderia aliviar o bolso da classe média e baixa, segue sendo empurrada com a barriga.
O contraste é evidente: enquanto no Brasil Paralelo discutem benefícios próprios, o Brasil Real vê o custo de vida aumentar diariamente.


Trabalho infantil: a chaga invisível

Nas ruas e feiras do país, crianças desnutridas trabalham para ajudar suas famílias. Como revelado pelo G1: 

https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/09/19/trabalho-infantil-volta-a-subir-mas-atividades-de-maior-risco-seguem-em-queda-aponta-ibge.ghtml


Esse é o Brasil Real, onde a fome e o desemprego empurram menores de idade para a sobrevivência precoce.
No entanto, esse tema raramente entra nas prioridades do Congresso.


Patriotismo seletivo e idolatria estrangeira

Outro contraste é o discurso de “patriotismo”.
No Brasil Paralelo, fala-se em valores nacionais, mas, na prática, existe uma idolatria por símbolos estrangeiros, tratados com mais respeito do que o próprio povo brasileiro.


Omissão diante das crianças nas redes sociais

O Congresso Nacional fecha os olhos para a exposição de crianças nas redes sociais.
Enquanto países estrangeiros já discutem limites e regulações, aqui no Brasil esse debate segue engavetado.
Mais uma vez, a política está no Brasil Paralelo, enquanto as famílias enfrentam sozinhas os desafios do Brasil Real.


Conclusão: até quando o Brasil Real será refém?

O Brasil Paralelo do Congresso segue distante, frio e malicioso.
O Brasil Real, por sua vez, luta diariamente com bolsos vazios, impostos sufocantes e a dor da desigualdade.

Até quando essa distância será mantida?
Até quando o povo será refém de uma elite política que ignora suas necessidades mais básicas?

Pense nisso!

Pedro Henrique Curvelo

Setembro 2025

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Um pavio de pólvora chamado Silas Malafaia

 


Silas foi atingido por aquilo que sempre foi sua arma: a voz. Quando um áudio vaza antes do fim de um inquérito, o estrago não é apenas jurídico — é narrativo. No Brasil, não é novidade: já vimos essa tática (ou desastre) na Lava Jato com Lula. Agora, o efeito rebote alcança Malafaia.

 

O áudio e o fim de duas romantizações

 

1) “Ele sempre foi assim.”

Para quem conhece Silas, não há surpresa no tom, nas explosões, no vocabulário bélico. O vazamento não revela um “novo Malafaia” — ele apenas escancara, para um público mais amplo, o mesmo repertório de décadas. O resultado prático é matar a narrativa do “perseguido religioso” puro e pleno. Soa contraditório reivindicar martírio quando o próprio material reforça o temperamento combativo que ele cultiva.

 

2) A fenda na dinastia Bolsonaro.

O trecho que envolve Eduardo Bolsonaro é dinamite. A percepção — já viva nas entrelinhas — de que Eduardo ainda opera como “menino” ganha corpo quando aparecem ofensas que atingem até o pai. A frase explícita — “VTNC SEU INGRATO DO CARALHO” — fulmina a aura do exílio heroico e expõe fragilidade de comando familiar. Um filho assim, em público, não protege o patriarca; complica-o.

 Quem irá se aproveitar disso não será apenas a oposição lulista, mas até os generais do bolsonarismo. Os governadores Zema (Minas), Tarcísio (São Paulo), Ratinho Junior (Paraná) e Caiado (Goiás). 

Por que isso importa?

Silas não é um ator periférico. É um comunicador profissional com milhões de seguidores, capaz de transformar indignação em combustível político. Mexer com Malafaia é sempre acender um pavio de pólvora: ele conhece o terreno, domina o tempo da fala e sabe ativar senso de pertencimento, injustiça e urgência. Se quiser, constrói em horas uma narrativa de perseguição suficientemente mobilizadora para encher ruas e caixas de comentários.

 

Mas o vazamento tem um efeito colateral: desalinha as versões. Quando a voz pública do movimento soa fora de controle, a base sente cheiro de desorganização. E onde falta harmonia, sobra espaço para dissidências — inclusive dentro do clã. Aqui vou repetir o que falei: Os governadores Zema (Minas), Tarcísio (São Paulo), Ratinho Junior (Paraná) e Caiado (Goiás).

 

As três frentes de impacto imediato

 

Base evangélica:

Firme na defesa moral, mas avessa a desordem que fragiliza o “testemunho”. O tom do áudio pode motivar alguns, mas cansa outros. Lideranças regionais, mais pragmáticas, tendem a pedir “sabedoria” e baixar o volume.

 

Bolsonarismo orgânico:

A ala digital adora a faísca, mas estrategistas percebem o risco: explosões verbais facilitam contra-ataques jurídicos e midiáticos. O vazamento vira munição para adversários e gera fadiga no eleitor médio.

 

Institucional/Jurídico:

Toda vez que a retórica se mistura com pressão pública sobre inquéritos, cresce a chance de endurecimento institucional. Em português claro: o sistema reage quando se sente afrontado.

 

O que será agora?

 

Há dois caminhos táticos disponíveis — e um custo para cada um:

  1. Dobrar a aposta

Intensificar o discurso, pintar o cenário de guerra religiosa, convocar a base e pressionar. Ganho: curto prazo, calor nas redes, alinhamento emocional. Custo: erosão de credibilidade no eleitor além do núcleo e mais atrito judicial.

  1. Baixar a guarda (o caminho mais difícil)

Reconhecer excesso de forma, recentrar a mensagem no mérito das acusações, disciplinar porta-vozes e reduzir o ruído. Ganho: preserva fôlego para a próxima batalha — e sempre há uma próxima. Custo: frustra a tropa que vive de combate diário.

 

Dentro do jogo político, a praticidade recomenda esfriar a chapa. De um lado, as acusações seguem seu curso. Do outro, quem quiser sobreviver estrategicamente precisa trocar volume por precisão: menos adjetivos, mais fatos; menos live inflamável, mais roteiro; menos desabafo, mais direção.

 

Em busca do controle narrativo perdido

 

Narrativas fortes têm coerência, cadência e canal. O vazamento sabotou as três:

  • Coerência: quando a fala pública desmente o personagem do “perseguido justo”, perde-se o enquadramento.
  • Cadência: a pauta foi sequestrada pelo improviso. Quem pauta pelo improviso vive na defensiva.
  • Canal: o áudio viraliza sem mediação; você fala, mas não edita. A mensagem chega crua — e cru nem sempre alimenta.

 

O conserto começa com disciplina. Não se combate gravação vazada com mais gravações explosivas. Combate-se com silêncio cirúrgico, mensagens testadas e porta-vozes treinados. Isso evita que o pavio siga queimando até o barril.

 

Conclusão

 

Silas Malafaia sempre jogou no limite — e muitas vezes venceu por causa disso. Desta vez, a arma ricocheteou. O áudio não destrói sua influência, mas recalibra seu custo: cada decibel de indignação agora cobra mais caro em credibilidade. Se a meta é atravessar a tempestade, a tática é simples (e impopular na militância): acalmar os ânimos, baixar a guarda e recuperar o controle da narrativa. Porque pólvora costuma obedecer à física, não à fé. E pavios, quando acesos, não perdoam.


Pense nisso!

Pedro Henrique Curvelo

Agosto de 2025

quarta-feira, 2 de julho de 2025

O Rito da Empatia diante da Brevidade da Vida




O Rito da Empatia Diante da Brevidade da Vida

por Pedro Curvelo

Vivemos como se a vida nos devesse alguma coisa. Como se o tempo, esse deus mudo e indiferente, pudesse ser domesticado pela força da nossa produtividade. Acordamos com metas, dormimos com frustrações. Entre o cuidado com o corpo, o trabalho, os compromissos sociais e o lazer agendado, vamos empilhando dias como quem arquiva papéis — automaticamente, sem memória afetiva, sem presença real.

E nesse frenesi, esquecemos do óbvio: somos uma caveira.

Sim, sob as camadas de pele, vaidade e performance, somos todos uma caveira à espera do pó. Não há nada de mórbido nisso — há algo de profundamente verdadeiro e libertador. Lembrar que somos finitos deveria ser o primeiro passo para sairmos do piloto automático e entrarmos no rito da empatia.

Mas não.

Tratamos os outros como funções, como ruídos na nossa jornada de eficiência. Classificamos os “lentos”, os “confusos”, os “burrinhos” do caminho — pais idosos, colegas de trabalho, atendentes de loja, amigos em crise — como obstáculos. Protocolamos interações como se fôssemos chatbots da vida: rápidos, objetivos, sem alma. E nesse processo, vamos nos desumanizando.

A empatia, então, se torna um rito.
Um rito de resistência contra a pressa que nos torna surdos.
Um rito de pausa para contemplar o outro não como um item na agenda, mas como alguém que respira, sente, carrega cicatrizes e tenta — à sua maneira — seguir vivo.

Porque enquanto corremos atrás de mais um deadline, a ampulheta vai escorrendo. Um piscar de olhos e já é outro ano. Um suspiro e a pessoa com quem brigamos ontem já não está mais aqui. O tempo não avisa quando vai parar. Ele simplesmente vai.

Por isso, a necessidade da empatia. Do comungar com a vivência do outro. Entender suas limitações, defeitos e reconhecer suas qualidades. Exaltar os seus dons. Focar não apenas no autocuidado. Mas, também no coletivo. No nosso legado e em como conduzir com nitidez a particularidade do que somos.

Pense nisso!

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Bobo da Corte Triboulet, Léo Lins e a MAIOR PIADA DO BRASIL


 


 Na Idade Média, os bobos da corte eram personagens curiosos. Vestiam-se de forma ridícula, usavam sinos no chapéu e andavam entre reis e nobres dizendo o que ninguém mais podia dizer. Com uma piada, zombavam do monarca, da rainha, da guerra e da fome — e saíam vivos. Mais que entretenimento, eram uma espécie de válvula de escape simbólica do poder.

 

Mas por que os reis permitiam isso?

 

Porque sabiam que o riso tem um efeito pacificador. Enquanto o povo estivesse rindo, não estaria se rebelando. A piada desarma. Humaniza. E no fim das contas, o bobo, mesmo zombando do rei, era sustentado por ele. A ousadia era parte do espetáculo, mas com limites sutis e bem definidos — muitas vezes invisíveis, mas sempre presentes. A piada era uma uma espécie de licença poética. Diferente se fosse algo organizado e formal.

 

Um exemplo emblemático é o do rei Francisco I da França, no século XVI, que mantinha em sua corte o célebre bobo Triboulet. Triboulet fazia piadas que beiravam o insulto, inclusive com a própria majestade. Conta-se que certa vez ofendeu gravemente um nobre poderoso, e o rei, irritado, prometeu que ele seria executado. Mas, como forma de clemência, permitiu que o bobo escolhesse a maneira como queria morrer. Triboulet respondeu:

“Morrerei de velhice, Majestade.”

Francisco riu tanto que o perdoou.

 

Rir do poder era permitido, desde que o poder ainda estivesse no controle do riso.

 

Corta para 2025.

 

O humor no banco dos réus

 

O comediante Léo Lins foi recentemente condenado pela Justiça Federal por uma piada considerada capacitista. A juíza Gabriela Serra Siqueira argumentou que a fala dele “não estava protegida pela liberdade de expressão”, pois teria ultrapassado o campo do humor e se tornado ofensa real. Com base na legislação que pune discursos discriminatórios, a decisão causou polêmica, elogios e indignações em diferentes campos da sociedade. 

 

Mas a condenação levantou uma questão mais ampla: piadas têm licença poética?

Ou, em outras palavras: o que separa o humor do crime? E quem está autorizado a fazer essa separação?

 

Historicamente, o humor sempre caminhou na linha tênue entre o aceitável e o ofensivo. É por natureza transgressor. O riso nasce do inesperado, do absurdo, do exagero — e, muitas vezes, do desconforto. Não existe humor sem risco. E por isso, quando a justiça entra no palco para decidir o que é ou não engraçado, algo se perde. Talvez não o direito do ofendido — que deve ser respeitado —, mas a liberdade de incomodar.

 

Se os reis medievais toleravam (e alguns patrocinavam) piadas sobre si mesmos, mesmo em regimes autoritários, por que democracias modernas parecem mais sensíveis a certos temas? Por que o comediante de hoje é punido por chocar, enquanto o bobo da corte era celebrado por fazer o mesmo?

 

A piada que ninguém quer ouvir

 

Entre tantas polêmicas sobre os limites do riso, há um tema que raramente vira piada: o roubo do INSS, por exemplo. A tragédia silenciosa de milhões de brasileiros que pagam tributos por décadas e se aposentam com valores miseráveis, enquanto verbas públicas somem em esquemas escusos que raramente resultam em prisão ou devolução de dinheiro.

 

Será que a maior piada de mau gosto não é essa?

Será que rir de uma deficiência é mais grave do que silenciar diante da humilhação institucional que é envelhecer no Brasil?

 

Léo Lins foi condenado por dizer o que muitos consideraram inaceitável. Mas quem será responsabilizado pelas “piadas” que o Estado faz com a dignidade do povo? E aqui não vou entrar na narrativa se o problema é do Governo Lula ou Bolsonaro. A difamação do roubo a aposentados e pensionistas está acima desses governos.

 

A fronteira entre o humor e o crime é real — mas ela também é política. E talvez, no fim das contas, o que determine se uma piada será tolerada ou condenada não seja o seu conteúdo, mas o seu alvo.

 

Como na corte de Francisco I, o bobo ainda pode rir — desde que saiba até onde pode ir.

E desde que o rei continue achando graça.

Pense nisso!

Pedro Henrique Curvelo

Junho de 2025