Esse período de eleição municipal revelou duas rachaduras no Bolsonarismo:
Primeiro o efeito Marçal em São Paulo. Pablo Marçal no cenário político não se torna ameaça para a esquerda. E sim para a direita. A fatia de votos que ele tira da direita se mostrou no primeiro turno em São Paulo. Seu discurso agressivo, debochado, com frases de efeito em um contexto de empreendedorismo, autoajuda e até religioso, encantou boa parte do eleitorado que deixou de votar no Nunes do Bolsonaro.
Não é a toa que o próprio Bolsonaro o atacou e depois o Silas Malafaia. Que até então se porta como um aiatolá do ex-presidente. Tudo bem que sobre o Malafaia, não foi só o Marçal que apanhou, o próprio Bolsonaro tomou uma chamada de "omisso" e "covarde" no sentido de que poderia ter sido mais protagonista nas eleições da cidade de São Paulo.
A segunda rachadura tem relação direta com os evangélicos. E aqui entra a figura do Deputado Federal e também Pastor Otoni de Paula Junior (MDB - RJ). Ao rasgar elogios ao Presidente Lula reconhecendo que os programas sociais ajudaram muito os evangélicos, como minha Casa Minha Vida, Prouni e outros. Tentou equilibrar o discurso dizendo que não votou no Lula. Mas, agradecer publicamente mostra um distanciamento do Bolsonaro. O efeito no Rio de Janeiro foi claro: Apoiou Paes ao invés do Ramagem, candidato do Bolsonaro.
E aos poucos o PT vai aumentando a articulação com a bancada evangélica. De acordo com a Folha de São Paulo, já se estima um acordo com 90 deputados da bancada.
Com essas rachaduras, os votos que o Bolsonaro recebeu começam a se dispersar para as próximas eleições. Vai se perdendo a centralidade. O discurso religioso, de guerra espiritual, muito presente na última eleição presidencial não ganhará força porque não terá um único inimigo. No jogo político a pior coisa é quando a definição de adversário se torna plural. Sendo mais de um, o candidato precisa dividir a narrativa e energia.
Ainda dentro do apoio dos pastores midiáticos, existe um fator de dúvida com relação a Igreja Universal. Tudo vai depender da mudança que haverá na presidência da Câmara dos Deputados agora em 2025. O vice-presidente da Câmara, deputado Marcos Pereira (Republicanos), tem buscado apoio do Presidente Lula. Ora, não podemos esquecer que Marcos Pereira é bispo licenciado da Universal e o próprio Partido Republicanos é da Universal. Se Lula apoiar, naturalmente a Igreja apoia o PT em 2026. Se criar essa aliança, não veremos mais a cena do Bispo Macedo colocando as mãos na cabeça de Bolsonaro e nem de nenhum dos seus aliados.
Vale lembrar que Republicanos, PL e União Brasil foram os partidos que mais ganharam prefeituras no Brasil.
Dentro da esfera política a formação da nova mesa da Câmara dos Deputados em 2025 irá apontar se as rachaduras no Bolsonarismo irão aumentar.
Por fim, o eleitor comum precisa acalmar o seu coração e não romantizar a política. Muito menos beatificar o que não pode ser santificado. Política é jogo do poder. E nessa relação acordos e discursos são feitos e desfeitos na mesma velocidade.
Procure entender mais sobre o jogo político.
Aprenda a sobreviver e blindar os seus interesses.
E, principalmente, não sofra por causa de político.
Pense nisso!
Pedro Henrique Curvelo
Outubro de 2024