É normal em discussões sobre Capitalismo e Socialismo,
ouvirmos a expressão “Consciência de Classe”. Principalmente em termos dos
direitos do trabalhador e sua relação com os patrões.
O discurso sobre essa tal consciência acaba entrando mais em um
terreno de jargões de sindicatos do que praticamente uma diretriz ou processo
que o trabalhador pode seguir. Expressão essa originada no Marxismo e a
Ditadura do Proletariado. Se bem que o próprio Karl Marx não dogmatizou esse
conceito.
Por isso, quero dar um passo para trás dessa consciência de
classe e focar na consciência de si.
O princípio é: Você precisa ter consciência de si, da sua
realidade financeira e social e usar a política a seu favor.
Aqui o ponto de partida é individual. Não é atender pleitos
de dirigentes sindicais, exigências dos patrões ou usufruir sem pensar dos
benefícios sociais de um governo.
Quem você é?
É rico, pobre, branco, preto, deficiente físico e assim por
diante.
Mora em que lugar?
Comunidade, condomínio fechado na Barra da Tijuca ou
interior.
Sua realidade familiar. Como ela é?
Família tradicional. Família onde o pai abandonou. Casos de
vícios, mortes ou tragédias.
Profissão. É professor, dentista, comerciante ou funcionário
público.
A partir dessa consciência de quem você é, você deve então
usar a política a favor dos seus interesses.
Seus Interesses
Sim! Seus interesses. Política é um jogo de poder de
interesses. Você é prejudicado pela política porque os seus interesses não
estão sendo representados.
Exemplo: Sou funcionário Público. Logo, preciso ter
conhecimento de pautas legislativas e executivas que podem impactar a minha vida.
Pense nas grandes corporações que possuem os seus “lobistas”
lutando pelos interesses em um determinado setor.
Integração de Interesses
Tendo consciência do que te impacta, ou impacta a sua área de
atuação, você integra as suas necessidades com de outros. Seja por associações,
clubes ou sindicatos.
Exemplo: Você mora em um determinado bairro e as ruas
possuem uma precária sinalização de trânsito que impacta a sua vida e de seus
filhos na hora de ir para a escola. Outros pais também tem a mesma necessidade
que a sua, momento ideal para unir forças e fazer um pedido para a prefeitura,
chamar alguém da imprensa. Sozinho dificilmente você irá conseguir. Só se você
for um influenciador digital, mas um caminho é associação de moradores do seu
bairro.
Seu bairro tem um? Tem, mas você não gosta. Não querer
participar de uma associação de moradores é um direito seu. Mas, pessoas irão decidir
por você. E o que escolherem, pode te impactar.
Pense fora da narrativa política
Política é um jogo de narrativas. Pare de sofrer porque o
Bolsonaro falou isso ou porque Lula falou aquilo. Saiba que nossa estrutura
política é superior a isso. E dependendo de quem você é e suas necessidades, um
prefeito te impacta mais do que um presidente. Foque no concreto. O que está sendo
tratado no legislativo e executivo. Fuja das distrações.
Uma maneira de fazer isso é entrar no site da Câmara dos
Deputados, senadores, assembleias legislativas estaduais, câmara de vereadores
e cadastrar o seu e-mail. Para receber o que está sendo votado. Ou cadastrar de
um determinado político para saber o que ele está fazendo.
Não se deixe enganar por partidos de "direita" ou de "esquerda"
Aqui tem relação com o ponto anterior. A guerra de narrativas
entre direita e esquerda, capitalismo e comunismo (que foge totalmente do sentido
tradicional) pode te distanciar dos seus objetivos.
Exemplo: Você é um professor da área pública. De imediato você
pensa que seus interesses serão atendidos pelo PT ou PSOL. Não necessariamente.
Existem políticos que se prendem apenas ao teatro do discurso para gerar
sensacionalismo. E de prático não fazem nada de concreto.
Outro exemplo engraçado são políticos que possuem discurso
forte contra bandido e a criminalidade. Mas, nunca apresentaram um projeto de
lei para tornar a legislação mais firme. Se vai ser votado ou não é outra
história. Mas, apresentar um documento com uma proposta de lei, todo deputado
pode.
Aí, nesse exemplo, você é assaltado ou alguém da sua família
morre vítima de um crime. Você se revolta, mas na eleição vota em políticos que
não trabalham em prol a essa pauta.
Ter consciência de si é o primeiro passo para a consciência
de classe. Que possui várias facetas.
Você tem alguém na sua família com autismo? Então você
precisa se juntar com pessoas que estão na mesma realidade que você. Participe
de grupos com essa temática, produza conteúdos, siga artistas que falam sobre e
vote em políticos que defendem qualidade de vida e direitos para os autistas. O
político ganhou, nada foi feito. Na próxima eleição não vote nele. Simples
assim.
Você é trabalhador e precisa andar de transporte público,
ônibus e Uber. Essa é sua classe. Você precisa votar em vereadores que cobram a
prefeitura por qualidade desses transportes. E não no miliciano que proíbe Uber
no seu bairro para forçar você a pegar a van controlada por ele. Não vote nele.
Mesmo que seu líder religioso diga que é um “homem de Deus”. Você não precisa falar que não irá votar nele porque pode ser arriscado, apenas não vote nele no momento da cabine da urna eletrônica.
Por fim, pense: O que
vai acontecer se todos lutarem pelos seus interesses?
A resposta é: O jogo ficará mais equilibrado. Como no
xadrez, se você não focar, apenas o outro irá ganhar.
Hoje é desproporcional o conceito de equidade no jogo. Ainda na analogia do xadrez. É como se o outro jogador só tivesse Rainhas entre suas peças e você peões. Peão é limitado por natureza. Rainha tem mais oportunidade de movimento. Por isso que o peão precisa se esforçar para pegar alguns espaços que a Rainha tem ocupado. Se ele não se movimentar será comido. Simples assim.
Pense nisso.
Pedro Henrique Curvelo
Abril de 2024