O Rito da Empatia Diante da Brevidade da Vida
por Pedro Curvelo
Vivemos como se a vida nos devesse alguma coisa. Como se o tempo, esse deus mudo e indiferente, pudesse ser domesticado pela força da nossa produtividade. Acordamos com metas, dormimos com frustrações. Entre o cuidado com o corpo, o trabalho, os compromissos sociais e o lazer agendado, vamos empilhando dias como quem arquiva papéis — automaticamente, sem memória afetiva, sem presença real.
E nesse frenesi, esquecemos do óbvio: somos uma caveira.
Sim, sob as camadas de pele, vaidade e performance, somos todos uma caveira à espera do pó. Não há nada de mórbido nisso — há algo de profundamente verdadeiro e libertador. Lembrar que somos finitos deveria ser o primeiro passo para sairmos do piloto automático e entrarmos no rito da empatia.
Mas não.
Tratamos os outros como funções, como ruídos na nossa jornada de eficiência. Classificamos os “lentos”, os “confusos”, os “burrinhos” do caminho — pais idosos, colegas de trabalho, atendentes de loja, amigos em crise — como obstáculos. Protocolamos interações como se fôssemos chatbots da vida: rápidos, objetivos, sem alma. E nesse processo, vamos nos desumanizando.
A empatia, então, se torna um rito.
Um rito de resistência contra a pressa que nos torna surdos.
Um rito de pausa para contemplar o outro não como um item na agenda, mas como alguém que respira, sente, carrega cicatrizes e tenta — à sua maneira — seguir vivo.
Porque enquanto corremos atrás de mais um deadline, a ampulheta vai escorrendo. Um piscar de olhos e já é outro ano. Um suspiro e a pessoa com quem brigamos ontem já não está mais aqui. O tempo não avisa quando vai parar. Ele simplesmente vai.
Por isso, a necessidade da empatia. Do comungar com a vivência do outro. Entender suas limitações, defeitos e reconhecer suas qualidades. Exaltar os seus dons. Focar não apenas no autocuidado. Mas, também no coletivo. No nosso legado e em como conduzir com nitidez a particularidade do que somos.
Pense nisso!