Existe o momento da vida em que chamamos de luto.
Sem eufemismos são momentos onde enxergamos o fim, simplesmente.
Onde não existe esperança de recuperação, ressurreição, reencarnação ou probabilidades de uma interseção.
Simplesmente é o fim. O silêncio. O vazio. A realidade nua e crua.
Onde pequenas doses de dopamina só existem pelo reavivamento das memórias. Onde transitamos entre o choro e a matriz de um mundo paralelo de encontro ou vivência com aquilo que não existe mais. Que pode ser feito pela consciência ou com o auxílio de elementos como álcool, drogas ou jargões positivos e religiosos.
Um luto pode ser a morte de um pai presente e atuante que simplesmente deixa de existir por causa de um acidente.
Um grande amor que simplesmente se vai. Não por morte, mas por caminho diversos da vida. Onde se tenta resgatar doses de esperança de um retorno.
Mas, entre choro e esperança sem fundamentos, surge a transcendência no encontro com o fim.
Não como romantização ou sistema de compensação do luto. Mas, da compreensão de que o fim chegou.
Como se fosse um fantasma que aceita o fim e decide não interferir no que ainda é e evolui. Como o grande Mestre uma vez ensinou: "Deixe que os mortos enterrem os seus mortos".
A transcendência do prosseguir.
Onde se interrompe os sistemas de cobrança. Onde existe simplesmente ir e evoluir. Processo pelo qual o "vinho novo encontra odres novos".
Pense nisso.
Pedro Henrique Curvelo
Maio de 2024