O de repente assusta.
Uma morte na família que ocorre sem esperar. O desemprego que chega sem aviso prévio. O término de um relacionamento. A descoberta de uma doença quando tudo parecia normal.
O de repente tem várias linguagens, mas o trauma é mesmo.
Fere nosso planejamento.
Quebra nossa expectativa.
Nos faz enxergar a ruptura da armadura, onde o sangue jorra.
Nos faz enxergar a finitude. A caveira que habita em nós.
A dor vem.
O desespero nos apossa.
É o momento onde tentamos inserir nossos remédios nas correntes das veias. Na esperança de nos livrar da realidade da dor.
Onde drogas, excessos, mantras e jargões religiosos não conseguem tirar.
Onde não conseguimos um escape para as miragens.
Aquele lugar em que a escuridão é o processo para a calma. De início é a insegurança e o medo. Mas com a respiração o cavaleiro medieval deixa a armadura cair.
O suspiro desfaz as tensões na nossa musculatura.
O sagrado feminino tranquiliza por um momento.
Até o dia do último suspiro. Onde as asas do Aba irão cobrir nossa finitude. E entenderemos que dele sempre fomos filhos.
Onde em um campo verde você observará as nuvens passando.
As árvores balançando.
Sobre sua passagem sua semente observando.
E o legado da sabedoria sendo digerida.
Onde a fusão gera o Uno.
Onde um novo ciclo se apresenta.
E a constatação que somos nascidos da lua, mas renascidos pelo sol.
Pedro Curvelo
Maio de 2023
Imagem: Leon Biss