segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Lula e Getúlio Vargas: Uma reflexão sobre a longevidade do Poder

 


"Bota o retrato do velho outra vez,

Bota no mesmo lugar,

o sorriso do velhinho,

faz a gente trabalhar." Haroldo Lobo e Marino Pinto - 1951


Lula juntamente com Getúlio Vargas passam a ser os dois presidentes com mais tempo no poder diante do período republicano. Getúlio ao todo ficou 18 anos no poder: 1930 a 1945 e 1951 a 1954. Lula, por sua vez, já ficou 8 anos e agora terá a oportunidade de ficar ao todo 12 anos: 2003 a 2011 e agora 2023 com término em 2026.

A crítica pela legalidade que Lula sofre diante do julgamento e prisão no período da Lava Jato, Vargas sofreu de outra forma. Para o pleito que o levaria ao poder em 1951 era acusado de não ter cumprido a Constituição no período em que aplicou uma ditadura. O que conhecemos nos livros de história como o Estado Novo.

Reinventando o nome

Lula tem o mesmo desafio que Getúlio Vargas quando voltou ao poder: Reinventar seu nome. No caso de Vargas foi destruir a imagem de ditador e amigo de nazistas. No caso de Lula, desconstruir a imagem de condenado, amigo de ditadores e comunista. Sobre este último ponto sabemos que Lula não é comunista (no sentido ortodoxo da palavra), mas na política como na vida a impressão fala mais que a verdade.

Lula terá um mandato para reconstruir. Até porque o hiato que teve do seu último mandato quando passou a faixa para Dilma em 2011, o Brasil mudou bastante. E querendo ou não Dilma deixou um fracasso político e econômico. Sem entrar no mérito se o impeachment foi fruto de um golpe ou não. Do ponto de vista econômico e de articulação política ela não foi bem sucedida. 

Sistema presidencialista

Se a sociedade é outra, o Congresso também é. Lula terá um trabalho exaustivo em negociar com o Congresso. Por isso já começou entregando 16 dos 37 ministérios. Esse é o efeito colateral do sistema presidencialista que o povo ainda não entendeu. Se eu gosto do Lula, preciso votar em deputados e senadores que apoiam ele. Se eu não gosto do Lula, preciso votar na oposição. O jogo é simples.

Se o sistema presidencialista tem seu entraves burocráticos, no Brasil isso é potencializado pela falta de conhecimento por parte da população do jogo politico. Por isso erramos ao votar como se o nosso sistema fosse parlamentarista. Aí entra aquela velha novela que só muda de nome: Mensalão, rachadinha, orçamento secreto e assim por diante.

Lula terá que "purificar" o seu nome diante das rachaduras que ficaram. Isso implica em acompanhar mais de perto os acordos que são feitos, gestão rápida dos escândalos e sempre ser transparente. Do contrário, o governo petista praticará novamente os erros do passado. Nesse ponto o PT não quer sofrer de novo na pele. Em paralelo, Paulo Pimenta na frente da SECOM, terá um trabalho de construção do Lula nas redes sociais. Ponto de sucesso que Bolsonaro tinha. 

Um nome na Oposição

A grande sorte do PT é que eles não terão um nome de peso na oposição. Diferente de Vargas que teve Carlos Lacerda como opositor. Não existe hoje no cenário nacional ninguém na oposição com a maestria política de Lacerda. Para alegria dos petistas e para desespero da oposição. 

Se ilude quem pensa que Bolsonaro (Jair, filhos e aliados) é esse nome grande nome na oposição. Sei que quando escrevo isso gera ira em algumas pessoas, mas deixando as emoções de lado o fato é: O PT voltou ao poder. Bolsonaro pode até ganhar força novamente, mas terá que ser mais estrategista nessa construção. O que, a princípio, Valdemar Costa Neto tem como foco. No entanto, a fragilidade está no próprio Partido Liberal (PL), que, com certeza, Jair Bolsonaro sabe disso. Se um dia Valdemar negociou com o PT (2002), quem garante que não fará de novo? A construção da oposição precisa ir além do PL. Vide a fragmentação que já começou no União Brasil.

Por fim, fundamental é que o país tenha governabilidade. Com equilíbrio entre governo e oposição. Harmonia entre os três poderes. E aqui destaco que é necessário que o Judiciário não avance em terrenos que pertencem ao legislativo e ao executivo. Somente assim teremos coexistência no jogo democrático e evitaremos tragédias. Seja com nome de impeachment ou uma tragédia maior que foi o suicídio de Vargas.

Pedro Curvelo

Janeiro de 2023