No campo político para conquistar o poder e mantê-lo é
necessário construir um nome até o ponto em que ele deixa o individual e assume
o coletivo. Deixa de ser referência a uma pessoa comum e se torna em um mito. O
nome passa a ter identidade própria. Mais tangível que a própria pessoa que o
carrega.
Assim aconteceu com o imperador romano Augusto Cesar, onde o
“Cesar” passou a ser um título cujo o significado era atrelado ao seu tio avó
Julio Cesar.
Hitler passou de um cidadão político para uma espécie
de Entidade do Terceiro Reich. No Brasil o mesmo se fez com Dom Pedro II,
Vargas e nos dias atuais Lula. Lula não é mais um codinome de Luis Inácio da Silva.
É agora um poder que pode definir o rumo do país em uma eleição. Mesmo estando
preso.
Por sua vez, Jair Bolsonaro também viveu essa transfiguração
ao evoluir o Bolsonaro do seu nome para uma entidade que serve de bandeira para o
conservadorismo da direita. Evoluiu em uma proporção muito superior ao que o próprio
Jair poderia alcançar. Tão elevado se fez que garantiu uma eleição apenas pelas
mídias sociais. Conseguiu atingir a massa política ao gerar seguidores
extremistas: Os bolsominions. Palavra depreciativa para fazer referência aos
seguidores fanáticos do Bolsonaro.
Nesse ponto, existe o grande conflito do nosso presidente. A
incapacidade do Jair em ser o Bolsonaro. Ele não consegue sustentar isso por
muito tempo. O Jair do Twitter é diferente do Jair construído por Olavo de
Carvalho.
Temos pouco tempo de governo e a cada semana o imprevisto do
que o Jair poderá falar ou digitar. O imprevisto gera angústia naqueles que
estão conduzindo um tema de suma importância: A reforma da previdência. Tema
este que está acima do governo do PSL. Se o Hadadd tivesse ganhado as eleições,
também teria que priorizar esse tema. No entanto, tal tema construtivo é
impactado pelas criancices do PSL.
Bolsonaro ao invés de ficar perguntando no twitter o que é “Golden
Shower”, deveria assumir seu papel constitucional como presidente. Ao invés de
ficar defendendo o filho na briga com Mourão, deveria mostrar para o Brasil que
seus filhos não são príncipes de uma corte republicana.
Mas, não é fácil o Bolsonaro assumir seu papel
constitucional e, tão pouco, gerir seu partido PSL.
O PSL é muito mais complexo que o PT. O PT, por exemplo,
possui a ala radical com os Sem Terras. Tem a ala intelectual da turma do
Hadadd e a ala tradicional da formação original. Nessa pluralidade do PT, Lula
conduziu e conduz com maestria.
O PSL, no entanto, vai muito além. Vejam a complecidade: Bolsonaro precisa gerir
dentro do próprio partido a ala conservadora, a ala militar, a ala liberal (centralizada no Paulo Guedes), a
ala intelectual (centralizada na figura de Olavo de Carvalho) e uma turma de deputados
que não possue nenhuma experiência política. Enquanto digito esse texto fico,
sinceramente, na dúvida do que é mais difícil: O Brasil ou o PSL.
Jair vive pressionado. Uma coisa é ser um parlamentar com anos
e mais anos no congresso. É fácil! É só colocar lenha na fogueira. É fazer um
discurso radical no microfone. Agora, a pegada é outra. Ser Presidente não é
para qualquer um.
Diante dessa carência do Jair e da loucura do PSL, temos a
falta de um articulador político. Um guardião da presidência, que
negocia temas importantes com o congresso, que coloca o Jair no trilho e que
preserva a imagem do que é ser Bolsonaro.
Esse poder de articulação não existe. Por
isso o intenso conflito com o Rodrigo Maia. Querem, a todo custo, transferir
para Maia esse papel. Mas, o próprio já criticou. Apesar da sua grande capacidade
com o Congresso, ele é o presidente da câmara e não o chefe da casa civil. Esta, que
é conduzida pelo Onyx Lorenzoni. Que, convenhamos, não serve para nada.
Diante dessa bagunça toda vale a pergunta: Até quando
Bolsonaro ficará no poder?
Difícil dizer. Mas, com toda certeza, nada acontecerá até a
aprovação da Reforma da Previdência. Poderes maiores blindam o tema das intempéries políticas.
Depois da aprovação, aposto que o Governo Bolsonaro irá cair e Jair poderá ser
Jair apenas.
Maio de 2019
Pedro Curvelo
Imagem: https://jornaldecaruaru.com.br/2019/04/nao-nasci-para-ser-presidente-nasci-para-ser-militar-diz-bolsonaro/