domingo, 5 de maio de 2019

A DIFÍCIL ARTE DE SER BOLSONARO




No campo político para conquistar o poder e mantê-lo é necessário construir um nome até o ponto em que ele deixa o individual e assume o coletivo. Deixa de ser referência a uma pessoa comum e se torna em um mito. O nome passa a ter identidade própria. Mais tangível que a própria pessoa que o carrega.

Assim aconteceu com o imperador romano Augusto Cesar, onde o “Cesar” passou a ser um título cujo o significado era atrelado ao seu tio avó Julio Cesar.

Hitler passou de um cidadão político para uma espécie de Entidade do Terceiro Reich. No Brasil o mesmo se fez com Dom Pedro II, Vargas e nos dias atuais Lula. Lula não é mais um codinome de Luis Inácio da Silva. É agora um poder que pode definir o rumo do país em uma eleição. Mesmo estando preso.

Por sua vez, Jair Bolsonaro também viveu essa transfiguração ao evoluir o Bolsonaro do seu nome para uma entidade que serve de bandeira para o conservadorismo da direita. Evoluiu em uma proporção muito superior ao que o próprio Jair poderia alcançar. Tão elevado se fez que garantiu uma eleição apenas pelas mídias sociais. Conseguiu atingir a massa política ao gerar seguidores extremistas: Os bolsominions. Palavra depreciativa para fazer referência aos seguidores fanáticos do Bolsonaro.

Nesse ponto, existe o grande conflito do nosso presidente. A incapacidade do Jair em ser o Bolsonaro. Ele não consegue sustentar isso por muito tempo. O Jair do Twitter é diferente do Jair construído por Olavo de Carvalho.

Temos pouco tempo de governo e a cada semana o imprevisto do que o Jair poderá falar ou digitar. O imprevisto gera angústia naqueles que estão conduzindo um tema de suma importância: A reforma da previdência. Tema este que está acima do governo do PSL. Se o Hadadd tivesse ganhado as eleições, também teria que priorizar esse tema. No entanto, tal tema construtivo é impactado pelas criancices do PSL.  

Bolsonaro ao invés de ficar perguntando no twitter o que é “Golden Shower”, deveria assumir seu papel constitucional como presidente. Ao invés de ficar defendendo o filho na briga com Mourão, deveria mostrar para o Brasil que seus filhos não são príncipes de uma corte republicana.

Mas, não é fácil o Bolsonaro assumir seu papel constitucional e, tão pouco, gerir seu partido PSL.
O PSL é muito mais complexo que o PT. O PT, por exemplo, possui a ala radical com os Sem Terras. Tem a ala intelectual da turma do Hadadd e a ala tradicional da formação original. Nessa pluralidade do PT, Lula conduziu e conduz com maestria.

O PSL, no entanto, vai muito além. Vejam a complecidade: Bolsonaro precisa gerir dentro do próprio partido a ala conservadora, a ala militar, a ala liberal (centralizada no Paulo Guedes), a ala intelectual (centralizada na figura de Olavo de Carvalho) e uma turma de deputados que não possue nenhuma experiência política. Enquanto digito esse texto fico, sinceramente, na dúvida do que é mais difícil: O Brasil ou o PSL.

Jair vive pressionado. Uma coisa é ser um parlamentar com anos e mais anos no congresso. É fácil! É só colocar lenha na fogueira. É fazer um discurso radical no microfone. Agora, a pegada é outra. Ser Presidente não é para qualquer um.

Diante dessa carência do Jair e da loucura do PSL, temos a falta de um articulador político. Um guardião da presidência, que negocia temas importantes com o congresso, que coloca o Jair no trilho e que preserva a imagem do que é ser Bolsonaro.

Esse poder de articulação não existe. Por isso o intenso conflito com o Rodrigo Maia. Querem, a todo custo, transferir para Maia esse papel. Mas, o próprio já criticou. Apesar da sua grande capacidade com o Congresso, ele é o presidente da câmara e não o chefe da casa civil. Esta, que é conduzida pelo Onyx Lorenzoni. Que, convenhamos, não serve para nada.

Diante dessa bagunça toda vale a pergunta: Até quando Bolsonaro ficará no poder?

Difícil dizer. Mas, com toda certeza, nada acontecerá até a aprovação da Reforma da Previdência. Poderes maiores blindam o tema das intempéries políticas. Depois da aprovação, aposto que o Governo Bolsonaro irá cair e Jair poderá ser Jair apenas.

Maio de 2019
Pedro Curvelo


Imagem: https://jornaldecaruaru.com.br/2019/04/nao-nasci-para-ser-presidente-nasci-para-ser-militar-diz-bolsonaro/