A religião é uma produção humana.
Aristóteles disse que “o homem é um animal político” (Zoon Politikon). Além do ser político, o homem também é um ser
religioso. A religião é produção do coletivo, a congregação das várias formas
de ver o Sagrado que, por fim, gera uniformidade. Como é ligado a cultura, cada
uma tem a sua produção de acordo com os códigos culturais (mitos, lendas,
sistema político e outros). Da mesma forma como tem a arte, literatura, música,
linguagem e comportamento.
O Brasil, por exemplo, é católico
devido ao fato de ter sido colônia da coroa portuguesa que era católica. Com o
decorrer do tempo recebeu influência do protestantismo com os huguenotes na
baía de Guanabara, com os ingleses e posteriormente com diversos missionários,
entre eles, o grande Robert Kalley. Passando o tempo, o catolicismo deixou de ser
a religião oficial do Estado. Possibilitando assim, o crescimento do
protestantismo. Internamente a cultura brasileira já tinha uma raiz cristã, de
tal forma, que foi fácil a conversão de boa parte da população. A partir da
década de 70, nossa nação recebeu forte influência de uma nova corrente do
protestantismo, as igrejas neopentecostais. Tendo como referência a Igreja
Universal do Reino de Deus (IURD) do Bispo Edir Macedo. Dessa forma, o Brasil também
é protestante e evangélico.
Nosso país também é umbandista e
candomblecista devido aos negros que foram escravos em nossa nação. Com a
globalização, o Brasil recebeu mais religiões. Como somos uma mistura de
diversos povos, é possível ver um terreiro de umbanda, uma Rosa Cruz, uma
igreja evangélica, um salão dos testemunhas de Jeová, uma sinagoga e diversos
outros templos.
Várias formas de ver o sagrado e
de interpreta-lo. Nosso interior tem predisposição para o espiritual. Um
história contada por várias formas. Vejamos o dilúvio, como exemplo. Diversos
povos falam sobre a mesma ocorrência. Cada uma com o nome de um deus diferente.
A nossa, como foi influenciada pela cultura judaico-cristã, interpretamos como
o evento da Arca de Noé. Jung vai chamar isso de “Inconsciente coletivo”.
Nesse processo social e cultural
que é pertencer a uma religião e termos um lado espiritual individual, podemos
ter uma mudança dos nossos códigos internos. Isto é, outra forma de interpretar
o sagrado, que chamamos de conversão.
Esta possibilidade se dar por
causa dos contatos que temos com diversas culturas. Onde pensamos, apuramos e
podemos ser movidos para um novo ensinamento. Por isso é possível ver um
umbandista se convertendo ao cristianismo, um evangélico se convertendo ao
catolicismo e um cristão se convertendo ao islamismo.
Esse evento faz com que nossa
sociedade evolua na produção teológica, na forma de comungar com o Sagrado e no
respeito com a crença do outro. Na vida de um homem, a fé é absoluta em sua
constituição. Mas, ao ser exposta e ficar em contato com o outro, acaba se
tornando relativa. Pois, o outro tem o direito de acreditar ou não. Sendo mais
claro: Internamente, posso acreditar que Jesus é o Deus encarnado. A única
salvação. Essa crença, dentro de mim, é absoluta. Agora, quando eu falo da
minha fé para um judeu, ela se torna relativa. Isso porque o judeu tem dentro
de si uma fé que também é absoluta.
Nessa coexistência do relativo
com o absoluto, temos no centro o ser humano. Cujo o imperativo é servi-lo e
amá-lo. E esse entendimento, é absoluto. Não tem relativismo.
Pedro Henrique Curvelo
Janeiro de 2014