quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

RELIGIÃO: UMA PRODUÇÃO HUMANA



   A religião é uma produção humana. Aristóteles disse que “o homem é um animal político” (Zoon Politikon). Além do ser político, o homem também é um ser religioso. A religião é produção do coletivo, a congregação das várias formas de ver o Sagrado que, por fim, gera uniformidade. Como é ligado a cultura, cada uma tem a sua produção de acordo com os códigos culturais (mitos, lendas, sistema político e outros). Da mesma forma como tem a arte, literatura, música, linguagem e comportamento.

   O Brasil, por exemplo, é católico devido ao fato de ter sido colônia da coroa portuguesa que era católica. Com o decorrer do tempo recebeu influência do protestantismo com os huguenotes na baía de Guanabara, com os ingleses e posteriormente com diversos missionários, entre eles, o grande Robert Kalley. Passando o tempo, o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado. Possibilitando assim, o crescimento do protestantismo. Internamente a cultura brasileira já tinha uma raiz cristã, de tal forma, que foi fácil a conversão de boa parte da população. A partir da década de 70, nossa nação recebeu forte influência de uma nova corrente do protestantismo, as igrejas neopentecostais. Tendo como referência a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) do Bispo Edir Macedo. Dessa forma, o Brasil também é protestante e evangélico.

   Nosso país também é umbandista e candomblecista devido aos negros que foram escravos em nossa nação. Com a globalização, o Brasil recebeu mais religiões. Como somos uma mistura de diversos povos, é possível ver um terreiro de umbanda, uma Rosa Cruz, uma igreja evangélica, um salão dos testemunhas de Jeová, uma sinagoga e diversos outros templos.

   Várias formas de ver o sagrado e de interpreta-lo. Nosso interior tem predisposição para o espiritual. Um história contada por várias formas. Vejamos o dilúvio, como exemplo. Diversos povos falam sobre a mesma ocorrência. Cada uma com o nome de um deus diferente. A nossa, como foi influenciada pela cultura judaico-cristã, interpretamos como o evento da Arca de Noé. Jung vai chamar isso de “Inconsciente coletivo”.

   Nesse processo social e cultural que é pertencer a uma religião e termos um lado espiritual individual, podemos ter uma mudança dos nossos códigos internos. Isto é, outra forma de interpretar o sagrado, que chamamos de conversão.

   Esta possibilidade se dar por causa dos contatos que temos com diversas culturas. Onde pensamos, apuramos e podemos ser movidos para um novo ensinamento. Por isso é possível ver um umbandista se convertendo ao cristianismo, um evangélico se convertendo ao catolicismo e um cristão se convertendo ao islamismo.

   Esse evento faz com que nossa sociedade evolua na produção teológica, na forma de comungar com o Sagrado e no respeito com a crença do outro. Na vida de um homem, a fé é absoluta em sua constituição. Mas, ao ser exposta e ficar em contato com o outro, acaba se tornando relativa. Pois, o outro tem o direito de acreditar ou não. Sendo mais claro: Internamente, posso acreditar que Jesus é o Deus encarnado. A única salvação. Essa crença, dentro de mim, é absoluta. Agora, quando eu falo da minha fé para um judeu, ela se torna relativa. Isso porque o judeu tem dentro de si uma fé que também é absoluta.

  Nessa coexistência do relativo com o absoluto, temos no centro o ser humano. Cujo o imperativo é servi-lo e amá-lo. E esse entendimento, é absoluto. Não tem relativismo.
Pedro Henrique Curvelo

Janeiro de 2014