quarta-feira, 2 de abril de 2014

ABORTO DA PRODUÇÃO TEOLÓGICA




Nenhuma ciência é estagnada. Todas vivem o processo da evolução. Entre elas, a Teologia não foge desse fluxo.

Não podemos abortar o pensamento teológico por causa de tradições e do fundamentalismo. Uma crença não é estática, ela passa por uma metamorfose que segue o multiculturalismo da nossa sociedade. Isto é, as diversas subjetividades. Uma ótica religiosa do passado pode, naturalmente, ser contestada nos dias de hoje. Vejamos a composição da Bíblia, o cânon, como é chamado, passou por mais de uma definição. Livros foram excluídos, depois voltaram, depois excluídos novamente e definidos como "apócrifos". No entanto, esqueceram que o próprio cânon acaba fazendo menção de alguns livros "apócrifos". 

Temos evoluído na tecnologia e em outras ciências, a teologia não pode ficar em retrocesso.

Para isso, não podemos ter medo. Ou seja, questionar, criar possibilidades, ver um outro lado e pensar no "e se não for bem assim". Todo esse processo faz parte de uma mente que não se conforma. Pensávamos que o raio era fruto de um movimento do Grande Ser nos céus, percebemos que se trata de fenômenos físicos e não metafísicos. Não valeu a crença anterior? Claro que valeu. A partir dela se chegou ao macro. O seu início, ligado ao campo mitológico alimentou a antropologia com o comportamento do homem, a psicologia com o medo do desconhecido, despertou o lado esotérico na produção de rezas, ritos e artes que alimentaram o passado e enriqueceram o futuro.

A produção teológica precisa ser livre. Não podemos ter mordaças de nenhuma instituição religiosa. É claro que o teólogo irá interpretar de acordo com os seus códigos espirituais. Mas uma teoria, não pode ser abortada. Precisa andar no campo do debate.

Quem disse que o inferno existe?
Como se relacionar com o Deus judaico-cristão que mandou matar crianças, idosos e animais para que um determinado povo dominasse um lugar na terra?
O Sagrado não aprova a relação homossexual?
Quem garante que o corpo de Jesus não foi roubado?
Como alguém pode nascer de uma virgem?

São algumas perguntas que não precisamos ficar com medo de levantar. Como também, devemos parar de pegar jargões para definir e ponto final. Tirar a venda dos olhos pode nos revelar algo ou não. Afinal, como está escrito na Bíblia no livro de Deuteronômio 29:30 que "as coisas encobertas pertencem a Deus, e as reveladas aos homens..."



Como a fé fica no campo subjetivo, nunca teremos respostas concretas. É totalmente filosófico. Na relação intrapessoal, minha fé é absoluta no Divino que acredito com a minha constituição interna. Porém, na relação social há diferentes pontos de vistas que enriquecem a cultura humana. Não preciso excomungar o humano porque ele acredita de forma diferente. Partidos há até mesmo em um próprio segmento religioso. Judeus pensam diferentes entre si, evangélicos tem suas denominações, o Budismo tem suas divisões e até o Islã.



O objetivo da teologia não é provar a existência de Deus, e sim, estudar o Sagrado que o humano projetou e revelou. Santo Agostinho contribuiu com os seus códigos sobre como era o Sagrado. Calvino contribuiu para a construção do protestantismo. O Apóstolo Paulo com sua visão sobre a Graça. São verdades absolutas? Não. São homens com as suas teologias. E hoje? Qual a contribuição do campo teológico?



Ver outras interpretações do Sagrado, amadurece a nossa visão. Concordo que nossa espiritualidade pode ser fortalecida ou entrar em crise. Mas, faz parte do processo do conhecimento humano.


Pedro Henrique Curvelo
Abril de 2014

Foto: http://www.itf.org.br/algumas-anotacoes-em-torno-de-caracteristicas-da-teologia-medieval-e-seu-pano-de-fundo-para-a-compreensao-de-uma-teologia-franciscana-2.html

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